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Enriqueta Martí - A Vampira de Barcelona

Barcelona, Espanha - 1912. Três anos antes corria na cidade do boato de que crianças estariam sendo sequestradas e assassinadas. O episódio ficou conhecido como a "Semana Trágica", que estava deixando as pessoas, especialmente quem tinha filhos, apavoradas e com medo. No ano anterior, 1911, o então prefeito da cidade afirma que as especulações não passam de meros boatos e que não há com o que se preocupar.

 
Ao cair a noite em 10 de fevereiro de 1912, Teresita G. Congost, de 5 anos, voltava para casa com sua mãe Ana. Quase em casa, Ana decide para e conversar com um dos vizinhos e, imaginando que nada aconteceria, soltou a mão da filha que se distanciou da mãe. Logo chega o marido de Ana e pergunta pela filha. A moça, então, entrou em desespero! Começou a gritar pelo nome da filha, mas sem nenhuma resposta ou sinal da pequena Teresita.
  
A menina, após soltar a mão da mãe, seguiu em direção à casa. Mas distraída, ela continuou andando e logo adiante, uma mulher que cobriu seu corpo com uma capa preta e desaparece noite afora.

Em Barcelona, não se falava em outra coisa se não o desaparecimento da pequena Teresita. E o desaparecimento da garotinha afirmava ainda mais os boatos que rondavam a cidade, de que havia um "bicho-papão" a solta. Duas semanas se passaram e nada do que a polícia fez foi capaz de traçar o paradeiro da menina.

  
Em 17 de fevereiro, exatos 7 dias do desaparecimento de Teresita, Claudia Elias, moradora da região da menina desaparecida, olha pela janela e, na casa vizinha, vê uma criança observando pela janela do porão. A criança era careca e nunca havia sido vista antes pelas redondezas. Os vizinhos tinham apenas dois filhos: uma menina e um menino, que estava fora de cidade tratando uma doença. Claudia decidiu investigar e ver quem era a crianças misteriosa. Dirigiu-se a casa da vizinha, bateu e foi recebida. Claudia, então pergunta para a vizinha quem é a criança e ela fica calada, num gesto muito estranho. Claudia avisa a polícia.
  


Dez dias depois, em 27 de fevereiro, a polícia vai até a casa da vizinha de Claudia alegando terem recebido uma denúncia sobre uma suposta criação de galinhas no porão da casa e que essa denúncia precisava ser investigada.
  
A polícia entrou na casa e já se deparou com duas crianças, uma delas estava com a cabeça raspara. A dona da casa falou aos policiais que eles precisavam de um mandado para entrar, mas já era tarde demais. O chefe dos policiais se aproximou da criança que estava com a cabela raspada e perguntou-lhe seu nome. A menina respondeu que se chamava Felicidade. O policial, então, pergunta se seu nome verdadeiro não era Teresita. "Aqui eu me chamo Felicidade", responde a garotinha.
  
A mulher contou aos policiais que havia encontrado a criança na noite anterior, com fome e frio e num ato de generosidade havia dado abrigo a ela. A mulher foi levada a delegacia e identificada como Enriqueta Marti, 43 anos, e um passado nada bom. Ela era aliciadora de menores.
  
Quem era Enriqueta Martí?

Enriqueta Marti nasceu em 1868 e mudou-se para Barcelona ainda muito jovem, antes de completar 19 anos. Trabalhou, por curtos períodos, em casas de família cuidado de crianças. Porém Enriqueta achava que poderia ganhar mais dinheiro como prostituta, pois era uma mulher bonita. Trabalhou em cartéis baratos e aprendeu práticas sexuais perversas.



Enriqueta esperava mais retorno financeiro da profissão que havia escolhido e por isso acabou casando-se com um pintor fracassado, chamado Joan Pujaló. Eles ficaram casados por 10 anos e nesse tempo se separaram e voltaram por 6 vezes. Aparentemente, Enriqueta não conseguiu deixar a profissão de prostituta para trás, traindo o marido com vários homens.
  
Em 1909 Enriqueta abriu seu próprio bordel. Mas não qualquer bordel. Era um local destinado a prostituição infantil e frequentado por depravados ricos da Barcelona. Uma vez lá, os menores perdiam sua identidade e eram obrigados a vender seu corpo para qualquer um que aparecesse.
  
Neste mesmo ano, estourou a revolução conhecida como "semana trágica" e em uma das rondas da polícia, o bordel de Enriqueta foi descoberto. Ela e um cliente, de família rica, foram presos. Os papéis do inquérito desapareceram misteriosa e Enriqueta acabou voltando para a rua: mas dessa vez para cometer todo e qualquer tipo de crime. Enriqueta passou a praticar bruxaria, sequestrar e matar crianças para usar em remédios e porções, além de continuar a aliciar menores.
  
Após ser liberada pela polícia, Enriqueta Martí mudou-se para um bairro extremamente pobre, onde continuou a aliciar e sequestrar crianças entre 3 e 12 anos. Os mais velhos eram obrigados a se prostituir e os mais novos eram mostos e seu cabelos, sangue e ossos usados para fabricar um creme para o corpo que era vendido para a elite de Barcelona.
  


Foi nessa época que Enriqueta adquiriu uma vida dupla. Durante o dia se vestia como mendiga, usando farrados, saia as ruas pedindo esmola e até entrava na fia do 'pão dos pobres'. Ela era bem de vida, mas usava o disfarce de mendiga com a finalidade de se aproximar dessas crianças miseráveis. Era assim que ela escolhia suas vítimas que seriam sequestradas. Durante a noite, vestia-se quase como uma marquesa. Usava roupas finas e joias. Enriqueta ia onde estava a elite da cidade e era assim que adquiria seus clientes para a prostituição infantil.
  
As crianças sequestradas e assassinadas eram sempre de famílias pobres, o que não causava tanto temor na cidade. Mas com o desaparecimento de Teresita G. Congost, os planos de Enriqueta Marti foram por água abaixo. Os rumores que iniciaram três anos antes eram bem verdadeiros: havia uma mulher sequestrando e matando crianças.
  
Semanas mais tarde, Enriqueta admitiu que a menina que estava com Teresita, quando a polícia invadiu sua casa, não ser sua sua filha e sim uma sobrinha que ela havia sequestrado logo após e criança ter nascido. O depoimento das duas meninas foram cruciais para o desvendamento do caso. Teresita contou a polícia que era mal alimentada, não podia sair à rua e que um dia havia encontrado um caso com roupas de crianças ensanguentadas e uma faca, também com sangue.

As declarações de Angelita foram ainda mais surpreendentes. Ela contou à polícia, com riqueza de detalhes, a vida dupla que Enriqueta levava, os aliciamentos, a prostituição infantil, os sequestros. Mas o que mais chocou, foi que a menina viu Enriqueta matar, a facadas, um garotinho loiro.
  
Alguns policiais foram mandados a casa de Enriqueta para coletar evidências de seus crimes. Além das roupas e da faca que Angelita relatou a polícia, foram encontrados aproximadamente 30 ossos infantis em um saco. Também foram encontrados cadernos com as receitas das porções feitas por ela. Quantias significativas de cabelo de uma garotinha de 3 anos. E o mais impressionante: 50 garrafas de sangue coagulado.
  
Quanto mais se investigava, pior ficava a situação de Enriqueta. Não teve outra maneira, ela se viu obrigada a admitir todos os seus crimes. "fiz remédios usando certas partes de cadáver humano" e "se vocês cavarem o chão debaixo da minha casa, irão encontrar algo. Se eu for pra forca, quero levar meus cúmplices junto comigo", admitiu Enriqueta a polícia.
  
Todas as propriedade de Enriqueta foram investigadas com cautela e precaução. Muitas provas foram encontradas contra a Vampira de Barcelona. Pelo menos 10 crianças morreram nas mãos de Enriqueta Martí.

Enriqueta Martí foi presa e enviada para a prisão Reina Amélia. Do lado de fora, as pessoas ficam sabendo de seas duas tentativas frustadas de suicídio. Três detentas de bom comportamento foram colocadas na mesma cela de Enriqueta com a finalidade de evitarem que ela tentasse novamente o suicídio. Apesar das descobertas macabras sobre a assassina ainda aconteceram, o assunto foi perdendo o interesse do público. O acidente do Titanic agora estava ganhando força e ocupando o lugar de Enriqueta nos jornais. 

Um ano depois de ser presa, Enriqueta foi linchada no pátio da prisão e acabou morrendo. E sua morte acabou prejudicando as investigações, pois muitos de seus clientes ainda não haviam sido descobertos e punidos pelos seus atos. A história de Enriqueta acabou entrando para o folclore espanhol, como sendo a reencarnação do mal. Dizem que algumas de suas propriedades vivem assombradas.