Uma
análise de DNA pode ter revelado a verdadeira identidade de Jack, o Estripador,
o serial killer responsável por, ao menos, cinco assassinatos em Londres em
1888.
Um
xale achado em torno do corpo de Catherine Eddowes, uma das vítimas do
criminoso, continha o DNA dela e do assassino e ajudou na retomada das
investigações do caso por interesse de um "detetive de poltrona".
A
descoberta foi possível depois que o empresário Russel Edwards, 48, comprou o
xale em um leilão e o colocou à disposição de Jari Louhelainen, um renomado
especialista em análise de evidências genéticas de crimes antigos que atua na
Interpol. Por meio de análises, Louhelainen -- que em seus momentos de folga do
trabalho como professor de Biologia na Universidade John Moores, de Liverpool--
conseguiu confirmar a compatibilidade do DNA da vítima e do criminoso, segundo o diário britâncio "Daily Mail".
Investigação
O
especialista fez análises fotográficas para estabelecer onde as manchas estavam
no xale. Com uma câmera de infravermelho, Louhelainen conseguiu confirmar que
as marcas escuras não eram apenas sangue, mas respingos de sangue arterial
advindos de cortes, justamente a causa da morte de Catherine.
Outra
descoberta em função do xale deixou a tão aguardada resposta ainda mais
próxima. Com uma fotografia UV, um conjunto de manchas fluorescentes apareceu.
Segundo o especialista, elas teriam características de esperma. "Eu nunca
esperei encontrar evidências do próprio estripador, o que foi
emocionante", contou Edwards, o dono da peça. Na investigação, também
foram encontradas evidências de partes de células de corpo humano no tecido. No
ataque, um dos rins de Catherine foi removido pelo assassino.
Para
retirar as evidências e poder analisá-las, o especialista usou um método
chamado "aspiração", que utiliza uma pipeta com um líquido especial
de tamponamento, o qual remove o material genético do tecido sem danificá-lo.
Com
a possibilidade de se realizar o exame, a tarefa do empresário Edwards passou a
ser descobrir um descendente direto de Catherine. "Por sorte, uma mulher
chamada Karen Miller --três vezes tataraneta da vítima-- havia aparecido em um
documentário sobre o estripador e concordou em oferecer uma amostra de seu
DNA", relembra. "Quando Louhelainen testou o DNA, ele formou um par
perfeito com o de Karen", que se animou com a descoberta, confirmando a
autenticidade do xale. "Nada mais havia sido conectado cientificamente à
cena de nenhum dos crimes", pontua Edwards.
Identidade de Jack
Para investigar o esperma encontrado no tecido, o especialista pediu o auxílio
de David Miler, outro renomado cientista forense. Juntos, eles conseguiram
identificar células do criminoso no xale. Elas eram do epitélio, um tipo de
tecido que reveste órgãos. A amostra teria vindo da uretra, durante a
ejaculação.
O
mesmo trabalho de investigação precisou ser feito na busca por um parente de
Jack, o Estripador. Até hoje, acredita-se que ele tenha sido Aaron Kosminski,
um cabelereiro polonês, que tinha 23 anos na época. No início da década de
1880, ele e sua família se mudaram para Londres fugindo de um massacre russo em
seu país natal. Kosminski tinha problemas mentais e, provavelmente, era um
misógino, homem que odeia as mulheres. Após ser preso como um dos suspeitos
--nunca houve prova suficiente para incriminá-lo--, ele passou o resto da vida
internado em hospícios.
Edwards
identificou uma descendente de uma irmã de Kosminski, Matilda. Ela aceitou dar
uma amostra de seu DNA para a investigação. Segundo as análises de Louhelainen
e Miler, o esperma encontrado no xale era, sim, de Kosminski, com o exame
apontando 100% de certeza. "Agora que acabou, estou animado e orgulhos
pelo que conseguimos, e satisfeito que tenhamos estabelecido, o máximo que
pudemos, que Aaron Kosminski é o culpado", conta Louhelainen.
Edwards,
por sua vez, se diz satisfeito por ter conseguido respostas sete anos após a
compra do xale. Com a certeza de quem era o estripador, o empresário já buscou
informações de sua biografia. "Ele era uma criatura patética, um lunático
que alcançou a satisfação sexual cortando mulheres da forma mais brutal. Ele
morreu no hospício de Leavesden, de gangrena, aos 53 anos, pesando apenas 44
quilos".
"Detetive de
poltrona"
Até ver um filme que conta a história de Jack --"Do Inferno",
estrelado por Johnny Depp, de 2001--, o empresário se considerava mais um dos
"detetives de poltrona" do caso. "Eu me juntei ao exército
daqueles fascinados pelo mistério e pesquisar sobre o estripador virou um
passatempo". Depois de visitar museus e procurar todas as evidências ainda
existentes sobre o crime, Edwards estava certo de que "havia algo em algum
lugar que estava faltando".
O Xalé que revelou a identidade de Jack, o estripador |
Em
2007, quando sentia que havia esgotado todas as possibilidades, ele viu em um
jornal o anúncio da venda do xale ligado ao caso de Jack. Incrivelmente, a peça
foi guardada por 126 anos sem nunca ter sido lavada.
O
xale foi adquirido por Edwards em março daquele ano. Quando comprou a peça, não
havia a certeza de que ela pertencia a Catherine. O antigo proprietário do
xale, David Melville-Hayes, acreditava que o item estava com sua família desde
o crime. Seu ancestral, o sargento Amos Simpson, perguntou a seus superiores se
poderia levar o xale para casa e dá-lo à sua esposa, uma costureira.
O
empresário queria, então, certificar-se de que a peça era original. "Eu,
certamente, não tinha ideia de que esse frágil, incompleto e extremamente
manchado xale levaria à solução do mais famoso mistério de assassinatos de
todos os tempos: a identificação de Jack, o estripador", escreveu Edwards
ao "Daily Mail". "Não há dúvida de que uma enorme quantidades de
livros e filmes surgirão para especular a personalidade e a motivação de
Kosminski. Eu não tenho vontade de fazer isso. Eu quis proporcionar respostas
verdadeiras usando evidência científica, e estou impressionado de que, 126 anos
depois, eu resolvi o mistério".
Fonte: Uol Notícias