O Anthrax ou antraz ou carbúnculo é uma doença infecciosa aguda
causada pela bactéria Bacillus Antracts e espalhada por todo o mundo, embora
seja mais típica das regiões agrícolas da Ásia, África e América Latina. Além
dos seres humanos, o antraz também pode afetar herbívoros, selvagens ou
domésticos. Essasinfecções são raras, mas às vezes ocorrem em
animais domésticos ou selvagens como vacas, cabras, ovelhas, camelos, antílopes
etc. No Brasil não existem registros de casos da doença em humanos. O nome da
doença vem do grego, anthrax,
que quer dizer carvão e faz referência à mancha negra que a doença forma na pele.
História
O
antraz é uma das mais antigas doenças cujo conhecimento pelo homem está
registrado. A doença é endêmica em animais silvestres e domésticos,
principalmente herbívoros como o gado bovino, cavalos e ovelhas, mas também
infecta outros animais inclusive gatos, macacos e seres humanos. O antraz que
ocorre naturalmente em humanos é uma doença adquirida de animais infectados ou
de produtos animais infectados, como peles, e manifesta-se, geralmente, por
lesões cutâneas. Imagina-se que a quinta e sexta pragas que os egípcios sofreram
cerca de 2000 a.C. fossem devidas a infecção por antraz. Durante a Idade Média,
a moléstia, chamada Peste Negra, devastou o interior da Europa, matando grande
quantidade de gado bovino e de ovelhas. O
antraz por inalação é uma nova forma de moléstia que apareceu na era
industrial, devido a partículas difundidas em aerosol nas fábricas de lã.
Em 1876, Robert Koch provou
definitivamente que o Bacillus
anthracis era o agente
causador da moléstia. Seu desenvolvimento dos “postulados de Koch”, por meio
dos experimentos com antraz, forneceu aos médicos e cientistas um método de
provar que uma bactéria específica causava uma doença determinada. O Bacillus
anthracis não apenas foi a
primeira bactéria que se provou ser causa de uma moléstia mas, também, foi a
primeira bactéria, em oposição a um vírus, para a qual foi desenvolvida uma
vacina. Em 1796, Edward Jenner
criou a primeira vacina contra o vírus, o da varíola, mas foi cerca de 100 anos
depois que a primeira vacina contra uma bactéria foi desenvolvida. Em 1881, Louis Pasteur criou a
primeira vacina bacteriológica contra o Bacillus
anthracis.
Embora os Estados Unidos tenham
tido cerca de 130 casos de antraz por ano no começo do século XX, isto foi
reduzido a 1 caso por década a partir dos anos 70. Embora raros casos de antraz cutâneo
tenham sido relatados nos Estados Unidos, nenhum caso de antraz por inalação
foi relatado nos Estados Unidos desde 1978. Em
grande parte, este decréscimo deveu-se, provavelmente, a um programa de intensa
vacinação dos animais nas áreas endêmicas e vacinação humana de pessoas em
situação de risco elevado. A
maior epidemia humana aconteceu no Zimbábue, em 1978-80, resultando em mais de
6.000 casos, dos quais quase todos estavam na forma cutânea.
A infecção por antraz em humanos
aparece em três formas: cutânea, gastrointestinal e por inalação. Essas formas da doença também
descrevem como a pessoa foi exposta ao esporo do Bacillus anthracis. A meningite
hemorrágica pode ser um estágio secundário em qualquer dessas formas da doença,
se a moléstia progredir até a bacteriemia. A forma cutânea da
moléstia é a forma mais comum, constituindo 95% de todas as ocorrências. Sem tratamento, 1 em cada 5 pessoas
morreria de antraz cutâneo. Com tratamento, sobrevivem virtualmente 100%. A forma gastrointestinal da doença é
muito mais grave e pode resultar em uma taxa de mortalidade de 50 a 100% das
pessoas sem tratamento.
Ciclo do Antraz |
O antraz por inalação é a forma
mais provável de ser vista em um ataque de BW e atinge cerca de 100% de
mortalidade, se o tratamento não for administrado quase que imediatamente. Se o tratamento começar 48 horas após
os sintomas do antraz por inalação, a taxa de mortalidade ainda pode ser tão
alta quanto 95%.
Um período de incubação (sem
sintomas) duraria de 1 a 6 dias. As
pessoas manifestariam, inicialmente, sintomas semelhantes ao do resfriado, sem
serem deles distintos (por exemplo, febre, dor de cabeça, dores musculares).
Esse período pode durar de 24 a 72 horas, seguido por algumas horas de
“melhora”. O estádio terminal é o declínio quase repentino, resultando em morte
em algumas horas. Nenhum dos
tratamentos disponíveis pode diminuir a incidência de mortalidade
significativamente uma vez que os sintomas iniciais tenham aparecido.
Em termos genéricos, o Bacillus anthracis é uma bactéria gram-positiva,
encontrada em numerosos solos, em todo o mundo, e pode sobreviver na forma de
esporo por décadas. Houve casos em que os esporos continuaram vivos após 200
anos. Embora algumas cepas possam
ter maior virulência que outras, todas elas devem ter certas características
que causam a doença.
Em sua forma vegetativa “de
crescimento”, o bacilo tem uma cápsula protetora que impede o sistema
imunológico humano de matá-lo. As
cepas da bactéria antraz que causam a doença caracterizam-se por três
componentes de proteínas que produzem. Esses
três componentes (antígeno protetor, fator letal e fator de edema) combinam-se
para produzir as duas toxinas mortais (toxina do edema e toxina letal) que
causam dano ao corpo humano. Em
estudos experimentais em animais, uma vez que os níveis de toxina alcançam um
patamar crítico, ocorre a morte, mesmo se forem usados antibióticos para
eliminar a bactéria.
Trinta e três diferentes cepas de Bacillus anthracis produtores de doença foram testados em
porquinhos da Índia; 7 cepas, em coelhos e 4 cepas, em macacos rhesus. Todo o
teste nesses animais confirma que as mesmas toxinas produzem as doenças, tanto
nos animais quanto nos homens. No
laboratório, o Bacillus
anthracis pode ser cultivado
de tal modo que o antígeno protetor pode ser isolado. Esta técnica ajudou os
cientistas a desenvolverem a atual vacina aprovada pela Food and Drug
Administration (FDA), que utiliza esta proteína mediadora da doença e
fundamental (o antígeno protetor) para desenvolver anticorpos a fim de prevenir
a doença.
Casos
Registrados
Os
primeiros casos - incluindo uma morte - foram constatados em 10/2001 em Boca
Raton (Florida/EUA), em uma editora de tabloides que criticavam
fortemente o principal suspeito dos ataques que destruíram as torres do World
Trade Center deNew York e atingiram o Pentágono, além de casos
suspeitos ocorridos na Europa. No dia 12/10/2001, foi reportado o primeiro caso
de antraz em New York, com uma funcionária da rede de televisão NBC. As
autoridades já investigavam episódios no Departamento de Estado em Washington/DC e no estado do Colorado e já um mês antes haviam sido colocadas em
alerta máximo, proibindo até mesmo o uso de aviões de fumigação agrícola, com
receio de um ataque de terrorismo biológico.
Na verdade, o antraz em si é até
bastante comum em todo o mundo, principalmente nos rebanhos bovino e ovino,
registrando-se raros casos de contaminação humana. O receio - até o momento não
justificado - é de que a bactéria possa passar por modificação genética em
laboratórios especializados, criando-se uma cepa resistente a antibióticos - o
que em tese permitiria seu uso como arma mortal. Grupos terroristas e mesmo
alguns países chegaram a fazer experimentos com diversos organismos (além do
antraz, também as bactérias da peste bubônica, da brucelose e da febre tifoide,
a toxina do botulismo e os vírus de varíola e ebola).
Vítima do Antraz |
Durante a Guerra do Golfo,
descobriu-se que cientistas iraquianos tinham produzido oito mil litros de
antraz, e em 1995 o governo de Saddam Hussein confirmou a existência de planos
para a produção de armas biológicas. Em 1979, ocorreu uma epidemia de
carbúnculo com 100 mortes na cidade russa de Sverdlovsk (atualYekaterinburg),
então atribuída à ingestão de carne contaminada, mas em 1992 o presidente Boris
Ieltsin reconheceu ter ocorrido a dispersão involuntária da bactéria nas
proximidades de uma instalação militar de aperfeiçoamento de armas com agentes
patogênicos. Acredita-se que Líbia, Irã e Coréia do Norte também os tenham, numa lista que se
supõe que poderia incluir ainda China, Taiwan, Síria, Israel, Índia ePaquistão.
Também foi divulgado em 2001 que o grupo terrorista ligado ao milionário Osama
Bin Laden manteria laboratórios biológicos no Afeganistão.
Desde 1995 existe o Grupo Ad Hoc,
reunindo 50 dos 144 países signatários da Convenção das Armas Biológicas (BWC)
de 1972, para tratar das violações a esses acordos. Rússia e Iraque, por
exemplo, haviam ratificado o acordo, mas não o cumpriam. A maior dificuldade
para o controle dessas pesquisas é a facilidade de camuflar os laboratórios
como produtores de remédios e vacinas comuns, implicando em que vários países e
grupos podem ter continuado com as pesquisas proibidas.
Por outro lado, a humanidade
ainda pode respirar aliviada: espalhar uma peste com mortandade em massa é algo
extremamente difícil: requer laboratórios de alta sofisticação para o
desenvolvimento de organismos modificados para esse propósito e sua
cultura/produção; ainda não há um sistema prático para dispersão desses
organismos na atmosfera (na forma de aerossóis). Tanto que a seita japonesa
Verdade Suprema, que em 1995 atacou no metrô de Tóquio usando gás sarin (que ataca o sistema
nervoso) - causando 13 mortes e 5.000 hospitalizações -, pretendia na verdade
usar uma arma biológica, e teve de abandonar as pesquisas pela extrema
dificuldade para o desenvolvimento de uma arma eficaz.
Os ataques biológicos nos EUA em
10/2001 demonstram que as organizações terroristas não dispõem de vírus
modificados, tanto que os casos diagnosticados a tempo estão sendo tratados com
os antibióticos normais para o caso. Explicaram as autoridades sanitárias que
no estado atual das pesquisas, as armas biológicas podem causar contaminações
de poucas pessoas ou pequenos grupos, com alguns casos de morte isolados, não
havendo o risco de mortandade em massa.
Fontes: ABC Med, Jornal Eletrônico Novo Mundo e AirPower