Não importa a origem do conflito armado, seja religioso,
econômico ou político, em quase todos, de acordo com a ONU, o mesmo crime é
cometido: o recrutamento de crianças como soldados. A eclosão da guerra na
República Centro-Africana (CAR) e no Sudão do Sul revelou que os grupos
rebeldes e milícias do governo de ambos os países usaram meninos como
combatentes e meninas como escravas sexuais.
Organizações
internacionais como a Unicef e a Anistia Internacional estimam que existem
cerca de 20 países onde crianças são sistematicamente recrutadas como soldados.
Eles estão principalmente na Ásia e na África. O único caso da América é a
Colômbia, pelas FARC. No total, o número de menores envolvidos diretamente nas
guerras é estimado em 300 mil.
Para
o conflito centro-africano, a UNICEF estima que mais de 6 mil crianças foram
recrutadas como soldados. Neste país, estão o grupo rebelde Seleka, coalizão
que consiste principalmente de muçulmanos, e a milícia cristã chama de
Antibalaka.
Carmen
Muñoz Molina, diretora de Cooperação e Emergências da Unicef Espanha, diz que
não há monitoramento da população na CAR e, por isso, o número de crianças em
combate pode ser maior.
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Neste país há um estado falido, o que faz com que seja mais fácil para os
vários grupos armados recrutarem crianças sem controle - disse.
Entre
os grupos que a Unicef identificou recrutando crianças na RCA estão o Exército
de Resistência, a Convenção dos Patriotas para a Justiça e Paz Fundamental, a
União das Forças Democráticas para a Unidade - esses dois últimos são membros
da coalizão Seleka.
O
recrutamento é semelhante em quase todos os conflitos: as crianças são
sequestradas de suas escolas ou aldeias. No entanto, em alguns casos, elas
chegam de maneira "voluntária": são dadas como uma forma de escapar
da pobreza extrema ou para vingar a morte de um parente morto, explica Carlos
Sanguino, responsável pelo trabalho com menores da Anistia Internacional
Espanha.
Ele
diz ainda que as crianças ficam com as tarefas mais perigosas: são usadas como
isca, espiões, para carregar e mover bombas. Já as meninas, servem como
escravas sexuais dos chefes. As idades variam entre 13 anos e 18 anos, mas há
casos crianças ainda mais novas.
Simoovinc
Ivan, vice-secretário-geral de Direitos Humanos da ONU, informou na semana
passada que "crianças-soldados estão lutando" a guerra do Sudão do
Sul, que começou há mais de um mês atrás e, de acordo com dados de ONGs
internacionais, já matou mais de 10 mil pessoas. O funcionário não deu um
número exato de crianças envolvidas no conflito entre os grupos étnicos Nuer e
Dinka, o qual o presidente sul-sudanês, Salva Kiir, pertence.
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Ouvimos dizer que um número razoável de crianças-soldados estão sendo
recrutadas no chamado Exército Branco, disse Simonovi, referindo-se a a um
grupo da milícia Nuer que varreu todo o estado oriental de Jonglei. Eles lutam
junto com os soldados rebeldes leais ao vice-presidente deposto Riek Machar.
O
representante da Unicerf no Sudão do Sul, Iyorlumun Uhaa, já avisou que quem
não cumprir "as leis que proíbem a participação de crianças em conflitos
armados será responsabilizado perante a justiça."
A
única condenação por usos crianças como soldados foi em julho de 2012, quando o
Tribunal Penal Internacional condenou Thomas Lubanga, um ex-senhor da guerra
congolês, a 14 anos de prisão pelas crianças que recrutou entre 2002 e 2003. O
Tribunal considerou a prática como um crime de guerra.
Trauma para toda a vida
Mesmo que as crianças-soldado tenham conseguido escapar da guerra,
aquilo que viveram irá certamente afetá-las para o resto
da vida. É,
pelo menos, o que mostram conflitos anteriores, em
que crianças foram recrutadas para combater. Antigas crianças-soldado não são só afetadas a nível psicológico.
Frequentemente, perdem também vários anos fora da escola.
Eric Mongo Malolo, da organização
não-governamental Afya, acompanha
crianças que participaram em confrontos. Constatou, com os próprios olhos, os desenvolvimentos na República Democrática do Congo.
Há uma década, a província de Ituri, no nordeste do país, foi palco de uma
guerra civil sangrenta. O trabalho da organização vai além da ajuda direta às
antigas crianças-soldado.
"A sociedade aqui olhava para nós como se estivéssemos a premiar
os agressores. Ou seja, tivemos também de trabalhar com a sociedade para que as
pessoas aceitassem as crianças e as ajudassem a integrar-se", sublinha o
congolês.
Fontes: O Glogo e DW Notícias
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