Crimes violentos e inexplicáveis
costumam intrigar as pessoas. Afinal, o que faz uma pessoa agir de forma
descontrolada e cruel? Pesquisadores de todo mundo vêm se dedicando a estudar a
mente e o comportamento de criminosos em várias partes do mundo.
O psiquiatra forense e
pesquisador da Unicamp, Eduardo H. Teixeira, explica que vários estudos já
demonstraram que o comportamento violento é decorrente da associação de fatores
socioambientais, psicológicos e biológicos.“Neste sentido, um indivíduo
que carrega em seus genes herdados aspectos relacionados à maior propensão de
ser violento, terá maior chance de expressar esse comportamento caso esteja em
um ambiente social desfavorável”, explica.
O estudo mais recente, feito na
Finlândia, relaciona a impulsividade a vários distúrbios psiquiátricos e a
comportamentos violentos. A pesquisa feita com presidiários de lá revelou que
uma mutação pode predispor seus portadores a reagir sob o impulso do momento e
de maneira irrefletida. A mutação está presente no gene HTR2B, um receptor de
serotonina, neurotransmissor que atua no controle de impulsos. A descoberta foi
feita após os pesquisadores sequenciarem e compararem o DNA de condenados por
crimes violentos com um grupo controle.
Estudos que associavam a herança
genética com a pré-disposição de determinados grupos de indivíduos para
assassinato e estelionato, atividades usurárias, perversidade sexual, alta
traição etc, foram desenvolvidos no século XIX e início do século XX, por toda
Europa e EUA – NR.
A pesquisa foi feita com 96
presidiários por um grupo internacional e os resultados publicados na revista Nature.
Denominada HTR2B Q20, a mutação
se mostrou três vezes mais presente entre os presidiários do que nos demais. Os
17 condenados que carregavam a mutação (do total de 96 analisados) cometeram em
média cinco crimes violentos, 94% dos quais sob a influência de bebidas
alcoólicas. Os crimes se constituíram em reações agressivas a eventos menores
sem premeditação ou ganho financeiro.
Apesar de a presença da mutação
ter se mostrado mais frequente nos criminosos, os cientistas ressaltam que sua
presença não é suficiente para provocar ou prever o comportamento impulsivo.
Segundo Laura Bevilacqua, do Instituto Nacional sobre Abuso de Álcool e
Alcoolismo dos Estados Unidos, outros fatores devem ser levados em
consideração, como gênero, níveis de estresse ou consumo de álcool. Por conta
disso, reforçam, mais estudos são necessários para entender melhor o papel
particular dessa mutação descoberta agora.
COMPORTAMENTO
O pesquisador da Unicamp
esclarece que comportamento violento e impulsividade são aspectos um pouco
distintos do comportamento humano. “A agressividade ou comportamento violento é uma dimensão mental e
comportamental própria do ser humano, uma experiência pessoal e manifestação
comportamental fundamental para a sobrevivência e adaptação. É considerado
fenômeno normal quando ocorre em contexto apropriado e em decorrência de
motivos pertinentes à adaptação”, define.
A agressividade, por outro lado, “é definida como sintoma
psicopatológico quando ocorre fora de contextos adaptativos e também quando
ocorre destoando claramente de padrões culturais. O comportamento violento será
detonado na ocorrência de determinados estímulos, mas também na dependência da
característica básica do indivíduo .”
PSICOPATIA
O termo psicopata foi descrito
pela primeira vez em 1941 pelo psiquiatra americano Hervey M. Cleckley, do
Medical College da Geórgia. A psicopatia consiste num conjunto de comportamentos
e traços de personalidade específicos. À primeira vista, os psicopatas são
vistos como pessoas normais, mas costumam ser egocêntricos, desonestos e adotam
comportamentos irresponsáveis. Não sentem culpa, são insensíveis e detestam
compromisso. A maioria dos psicopatas é homem.
O instrumento mais usado entre os
especialistas para diagnosticar a doença é o teste Psychopathy
checklist-revised (PCL-R), desenvolvido pelo psicólogo canadense Robert D.
Hare, da Universidade da Colúmbia Britânica. O método inclui uma entrevista
padronizada com os pacientes e o levantamento do seu histórico pessoal,
inclusive dos antecedentes criminais.
Psicopatas reagem de modo
diferente a estímulos
Criminosos em série ou conhecidos
pelo seu elevado grau de crueldade rendem boas histórias no cinema e na
literatura. Também são alvo de inúmeras pesquisas científicas ao redor do
mundo. Estudando esses criminosos, os cientistas descobriram que os psicopatas
respondem de maneira diferenciada aos estímulos externos e processam informações
de forma diferente.
O pesquisador Eduardo Teixeira
conta que o comportamento violento do psicopata é planejado e plenamente
deliberado. “Vários estudos já demonstraram alterações na neurofisiologia do
cérebro do psicopata. São indivíduos que não reconhecem nas pessoas
determinadas expressões afetivas, como a de sofrimento, dor, entre outras, ou
reconhecem de forma diferente da população geral. São geralmente incapazes de
sentir culpa, arrependimento e ainda pode sentir prazer com situações de
sofrimento alheio”, define.
Um estudo apresentado em 2003 no
Reino Unido mostrou que quando pessoas normais mentem, existe atividade
ampliada no lobo frontal. Isso sugere uma experiência de culpa e desconforto.
Essa atividade não é verificada quando os psicopatas mentem.
Outro estudo constatou que
psicopatas reagem de forma diferenciada quando vêem palavras fortes como
´estupro´ ou ´assassinato´. As mudanças que ocorrem em sua atividade cerebral
diferem completamente das mudanças que ocorrem nos cérebros de não psicopatas.
Interessante também seria saber
como determinados indivíduos reagem à palavra “ouro” – NR.
Em 2006 um grupo de cientistas
ingleses concluiu que entre os psicopatas, os percursos neurológicos que
processam sinais de problemas e incômodos alheios ou não funcionam, ou
funcionam de maneira completamente diferente da que vemos na população como um todo.
Isso poderia explicar porque os psicopatas não se identificam com o incômodo
que infligem às suas vítimas.
PSICOPATIA OU PSICOSE?
Relatos de crimes aterrorizantes são tão antigos quanto a própria
civilização. A personalidade dos criminosos que os perpetram passou a ser
estudada de maneira mais aprofundada a partir de 1930 na Alemanha. Na ocasião,
o psiquiatra Karl Berg empreendeu aquela que é considerada a primeira
entrevista com um serial killer, no caso Peter Kürten, descrito como uma pessoa
amável que, entretanto, ficou conhecido como o Vampiro de Düsseldorf por ter
assassinado e mutilado oito mulheres, entre elas, crianças e adolescentes.
O termo “serial killer” foi criado pelo criminalista norte-americano
Robert Ressler, especialista em crimes violentos que, após décadas atuando no
FBI, ainda hoje presta consultoria à policia federal norte-americana.
Ressler dividiu esses criminosos em três categorias: a primeira seria
daqueles que sofrem de psicoses e apresentam sintomas de esquizofrenia, como
escutar vozes e sofrer de alucinações, que a partir daí partiriam para a
execução dos crimes. O ex-agente do FBI coloca em outro grupo aqueles que
sentem um prazer sádico em planejar de maneira metódica o que antecede e o que
sucede à morte de suas vítimas. Na terceira categoria estariam os criminosos
que apresentam de maneira simultânea as duas características descritas nos
grupos anteriores.
Outros pesquisadores buscaram, também, classificações que pudessem
auxiliar na diferenciação do perfil psicológico dos assassinos. O psiquiatra
James de Burguer, por exemplo, acrescenta uma outra categoria à lista de
Ressler: os que acreditam que estão livrando a sociedade de algum grupo que
representa um desvio de conduta moral, como prostitutas ou homossexuais, ou que
personifique alguma ameaça à comunidade.
Com traumas de infância, John Wayne Gacy Junior (foto) cresceu
perturbado pela humilhação que sofria do pai. Foi preso ao ter relações sexuais
com um garoto em um banheiro público. Liberto, anos depois, tornou-se palhaço.
Conquistou a confiança da comunidade de Chicago, principalmente das crianças.
Descobriu-se que ele matava e mutilava os jovens em sua casa.
É importante ressaltar que, apesar da palavra “psicopata” ser comumente
relacionada com os assassinos seriais, nem todos podem ser classificados como
tal, porque a grande maioria dos psicopatas não apresenta impulsos violentos.
Comumente usada no jargão psiquiátrico, a classificação das psicopatias
gera discussão entre profissionais dessa especialidade médica. Considerado
uma das maiores autoridades da Psiquiatria Forense no Brasil, o médico Guido
Palomba há muito anos deixou de usar a palavra, por não achá-la adequada, “de
acordo com a etimologia, psicopatia quer dizer uma psique patológica, mas
qualquer psicose também significa uma psique com patologias. Acho que o termo
mais apropriado é ‘condutopata’. É uma conduta patológica”.
Palomba ressalta a diferença de comportamento entre aqueles a quem chama
de condutopatas e os psicóticos. “De um lado, você tem os condutopatas, que não
deliram nem sofrem de alucinações, mas têm distúrbios de conduta
comportamental. Do outro, os que sofrem de psicoses. Estes últimos normalmente
apresentam delírios de perseguição, escutam vozes, etc. Psicoses como
esquizofrenia e paranoia possuem essas características. Infelizmente, entre o
delírio e a realidade, o doente mental fica com a alucinação. Assassinos em
série podem ser de ambos os tipos”, explica o médico.
EM SÉRIE E EM MASSA
De acordo com o psiquiatra Kurt Schneider, que cunhou o termo
“psicopata” nos anos 1940, estes indivíduos teriam como traço mais marcante o
uso praticamente exclusivo de suas faculdades racionais em detrimento da
afetividade, isto é, um sujeito que não possui a mínima empatia por outras
pessoas, as quais serão sempre usadas para que ele obtenha poder, status,
diversão, etc. “O condutopata tem de anormal um distúrbio na vontade, ele tem
um ‘querer’ patológico. O sentimento é todo voltado para si mesmo, por isso não
há culpa. Se você perguntar para o sujeito que tenha cometido algum crime se
está arrependido do que fez, ele vai dizer que sim, pois está preso. No
entanto, não demonstrará nenhuma ressonância com a sorte da vítima”, esclarece
Palomba. Segundo ele, uma a cada 25 pessoas possui algum traço de psicopatia e
destes, para cada grupo de quatro indivíduos classificados como tal, apenas um
seria mulher. A ciência ainda não tem uma explicação razoável para esta maior
incidência entre o sexo masculino.
MULHERES APAIXONADAS
Não são poucas as mulheres que se apaixonam por psicopatas reclusos.
Informação divulgada sobre a quantidade de cartas de mulheres apaixonadas que
Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”, recebia na prisão gerou
perplexidade em muita gente. A psicanalista Josefina Rovira Prunor credita o
fato ao delírio onipotente de algumas mulheres: “a pessoa acredita que o amor
dela seria capaz de curá-lo e fazer emergir nele um lado afetuoso”. Outra
teoria, que explicaria também esse encantamento, pode estar vinculada à “pulsão
de morte” – descrita por Freud no livro Além do Princípio do Prazer, de 1920 –
que por sua vez levaria à perversão masoquista. “Tudo é uma questão de encaixe.
O masoquista será sempre atraído pelo sádico”, arremata a também psicanalista
Rosana Ferreira Machado
Também não há consenso, ainda, sobre qual o mais eficaz método para
avaliação do acometimento da disfunção. Entrevistas ou testes, como o
desenvolvido pelo psicólogo Robert Hare, atualmente o mais usual, ainda geram
alguma discussão nos meios acadêmicos.
A comprovação da existência do Transtorno de Personalidade Social (TPS)
em algumas pessoas vem servindo nos últimos anos como principal pista para um
diagnóstico. Porém, alguns especialistas afirmam que mesmo a comprovação da
presença da patologia não é suficiente para o enquadramento do indivíduo como
psicopata, dada a dificuldade de se estabelecer uma diferenciação dos sintomas
comuns ao TPS com os de um paciente com traços esquizoides, por exemplo.
O psiquiatra norte-americano Michael Stone empreendeu extensa pesquisa
sobre o assunto com criminosos seriais. Os resultados obtidos dão uma noção de
quão árdua pode ser a tarefa de se enquadrar essas pessoas em um diagnóstico
descrito em manuais como o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders). De acordo com o estudo de Stone, cerca de 86% dos serial killers
podem ser classificados como psicopatas a partir do teste proposto por Hare. Já
9% apresentaram alguns sintomas da patologia, porém não suficientes para serem
diagnosticados como tal. A partir da descrição do DSM é possível enquadrar 50%
dos entrevistados também como portadores de personalidade esquizoide, em que o principal
sintoma é a hipervalorização do mundo interior em detrimento da realidade
externa.
Este perfil, segundo alguns pesquisadores, se enquadra mais nas
características dos mass murders (assassinatos em massa), nos quais os
criminosos matam indiscriminadamente o máximo de pessoas possível numa única
investida. Ainda que ocorram em todo o mundo, o país de maior ocorrência destes
eventos aterrorizantes são os Estados Unidos. O caso mais recente, ocorrido em
abril de 2007 na Universidade Técnica da Virginia, deixou um saldo macabro: 32
mortos e o suicídio do autor dos crimes, o estudante Seug Cho. O perfil
psicológico destes criminosos, segundo descrição de peritos, na maioria dos
casos inclui baixa autoestima, tendência a culpar os outros por fracassos e
isolamento social.
CRIMINOSOS NA LITERATURA
“Perfil de uma mente criminosa” Por Brian Inmes Editora Escala 114
páginas R$ 49,90
O perfil psicológico de assassinos do mundo inteiro é o principal foco
do livro Perfil de uma Mente Criminosa (Editora Escala, 2009). A obra aborda a
questão histórica da Medicina em busca de uma característica física que pudesse
apontar a natureza criminosa. Também analisa a inserção da Psicologia nas
investigações que contam com a ajuda das teorias de famosos pensadores como
Gustav Jung e o pai da Psicanálise, Freud, para entender as mentes criminosas e
a importância desta ciência na resolução dos crimes. O leitor poderá conhecer
em detalhes as histórias de diversos criminosos, entre eles, Jack, o
estripador; O vampiro de Düsseldorf e o Estripador de Yorkshire, entendendo
desde o processo de descoberta dos assassinos até a descrição de suas motivações
para as atrocidades. Toda a obra vem repleta de imagens, fotos dos incidentes,
cartas, fotografia dos assassinos, das vítimas, das armas, entre outras
curiosidades.
No Brasil, o caso mais famoso foi do ex-estudante de medicina Mateus da
Costa Meira que, armado com uma submetralhadora de 9 mm, disparou diversos
tiros contra uma plateia de cinema do Morumbi Shopping (zona sul de São Paulo)
em 1999 e matou três pessoas. Em entrevista publicada na Revista Época em 2000,
a mãe Alina da Costa Meira relata que o filho começou a apresentar quadro de
depressão e agressão excessiva a partir dos 13 anos, sem motivo aparente. Ainda
nesta época, comentava que não tinha amigos e que queria se suicidar. Chegou a
passar por tratamentos psicológicos e internações. Na sentença do crime, a
alegação de que sofre de desvio mental e que seria semi-imputável (ou seja, que
possui apenas consciência parcial dos fatos) não foi aceita. Essa alegação da
defesa poderia resultar na diminuição da pena em até dois terços. Laudos envolvendo
características mentais dos criminosos sempre geram polêmica.
O QUEBRA CABEÇAS
Mas qual fator seria o predominante para desencadear a formação de uma
personalidade doentia, capaz de cometer crimes hediondos?
“Todos os processos são endógenos”, afirma Guido Palomba. As causas
biológicas, segundo o psiquiatra forense, podem ser inúmeras. O médico explica
que algum comprometimento do lobo frontal, parental, meningite, anóxia no
parto, etc, podem predispor o sujeito a cometer crimes.
Patologias como a epilepsia, por exemplo, são comumente relacionados a
crimes hediondos, principalmente aqueles que têm como principais
características a ausência de motivos plausíveis para serem cometidos e a
ferocidade na execução. Especializado em diagnósticos, Palomba explica, “a
epilepsia não é só aquela que normalmente as pessoas conhecem dos quadros em
que há desmaio e uma convulsão epilética. Esta é simples de se
diagnosticar. Existem as epilepsias psicóticas, que não se refletem nos
músculos, mas atacam o lobo frontal, o que leva, inclusive, o individuo a ter
delírios”.
Fatores genéticos também devem ser levados em conta nesta equação,
segundo o especialista. “Muitas pessoas nascem com a propensão de se tornarem
criminosas. Porém, é obvio que não é porque a pessoa possui uma disfunção
endógena que vai trilhar este caminho, assim como acredito que apenas uma
vivência dolorosa no passado não tem força para criar indivíduos capazes de
praticar crimes monstruosos”.
CRIANÇAS ASSASSINAS
Um estudo estadunidense revela que crianças que maltratam, torturam ou
matam animais tem um grande potencial para se tornarem assassinas na vida
adulta. A pesquisa foi realizada pelo Federal Bureau of Investigation (FBI, a
polícia federal norte-americana), que analisou a história de vida de diversos
criminosos nos Estados Unidos. Outro estudo realizado na terra do Tio Sam
verifica o perfil dos casos de crueldade animal. Conduzido pela Humane Society
of the United States (HSUS), descobriu que 94% da crueldade animal intencional
foi cometida por homens e que 31% dos responsáveis tinham 18 anos ou menos.
CRIMES NA SÉTIMA ARTE
O cinema recorre constantemente a personagens psicopatas para montar
tramas densas e enigmáticas. Quem não se lembra do massacre na escola americana
de Columbine, quando dois adolescentes metralharam colegas e professores. Essa
tragédia foi traduzida para a arte do cinema sob o nome de Elefante, dirigido
por Gus Van Sant. O filme mostra a vida cotidiana dos alunos da escola que se
tornou palco de uma das mais sangrentas páginas dos Estados Unidos. Assistimos
a dois amigos que compram uma metralhadora e resolvem acertar contas com as
pessoas que tinham desavenças. Ainda falando de jovens, o filme Anjo Malvado,
estrelado por Macaulay Culkin, mostra um garoto de 12 anos que começa a
praticar atos de maldade gratuita após a morte de sua mãe. A frieza e o grau
das maldades praticadas pela criança assustam e impressionam. No ano de 1993,
outro filme impressionante chega aos cinemas: Encaixotando Helena. Trata-se da
história de um cirurgião que se apaixona por uma prostituta e não é
correspondido.
Para impedir que a garota fuja, ele é capaz de levar tudo às últimas
consequências, e começa a amputar membros de sua amada. Como não falar então do
clássico filme Psicose, do mestre do cinema Alfred Hitchcock, que
apresenta a história de uma mulher que se hospeda em um hotel de beira de
estrada e conhece o misterioso dono que, na verdade, é um psicótico
esquizofrênico. Contudo, o prêmio de maior serial killer da história do cinema
está entre dois personagens: Hannibal Lecter e Jigsaw. O primeiro protagoniza
uma trilogia iniciada pelo filme
Silêncio dos Inocentes. Hannibal é um serial killer preso que presta
ajuda a uma policial iniciante para desvendar a mente de outro assassino
desconhecido. Enquanto isso, Jigsaw é o homem por detrás do boneco bizarro do
sangrento filme Jogos Mortais, onde pessoas são obrigadas a
realizar tarefas que envolvem raciocínio, muita dor e escolhas difíceis para
sobreviverem. Um filme de tanto sucesso que já está em sua sexta continuação,
sempre trazendo pontos da história do serial killer e mostrando suas motivações
para os assassinatos em série.
Palomba faz coro com a hipótese mais aceita atualmente entre
especialistas: a de que o que faz de uma pessoa um verdadeiro criminoso, capaz
de atos hediondos, são inúmeros fatores que ocorrem simultaneamente. “Estes
processos devem ser analisados a partir de uma ótica biopsicossocial. Se você
tem uma predisposição biológica, talvez o fato de contar com aspectos
psíquicos, afetivos, sociais e culturais positivos, não seja suficiente para
conter aquela pulsão. Por outro lado, às vezes, a predisposição biológica até é
pequena e, no entanto, os processos afetivos e sociais são tão negativos que o
sujeito parte para o crime”.
O psiquiatra alude, ainda, ao fato facilmente observável de que mesmo
que criados em uma comunidade violenta e sem o afeto e os cuidados de uma
família, a maioria dos indivíduos sem predisposição biológica não se envolvem
com crimes.
AFETO E LIMITES
A
psicanalista Rosana Ferreira Machado compartilha da opinião de que apontar
apenas um único fator que explique os comportamentos desses criminosos é
insuficiente. “Precisa ter uma série de fatores simultâneos para o sujeito
passar a agir como serial killer”, opina. A analista indica um conceito
defendido por Melanie Klein como pista para se entender o processo psíquico
desses criminosos: “acredito que estas pessoas sofram de uma fixação gravíssima
na fase esquizoparanoide, na qual a criança possui uma raiva muito grande que
precisa ser dissipada pela mãe”. Rosana ressalta que uma atuação falha da
genitora em dotar a criança de uma segurança afetiva, por si só, não explicaria
a conduta desses criminosos, mas aponta um dado relavante, “muitas crianças,
para poder dar conta de suas angústias, desenvolvem acentuada racionalidade,
uma das características da psicopatia”.
É importante frisar que a psicopatia, dentro da nosografia da Psicanálise, não está enquadrada nem na neurose, nem na psicose e nem nas perversões. “Ela pode ser descrita como um conjunto de sintomas em diferentes graus em qualquer estrutura ou organização da personalidade. Talvez as mais próximas sejam as perversões”, explica. “Não só a sexual, mas a social também, no sentindo de burlar normas, cujo traço predominante é o ser perverso”. Outro indicativo sobre o funcionamento da psique dos criminosos diz respeito à formação do superego na infância. “Ele é formado a partir da transgeracionalidade e com a identificação com os superegos dos pais. Se este aspecto da psique dos pais é frouxo, de modo a permitir que a criança faça tudo sem limites, a estruturação estará comprometida. Exemplo comum é daquele em que a criança não é contida nem repreendida em seu sadismo ao matar um animal”. Segundo Winnicott, cuja obra se destaca por seu profundo estudo da psique infantil, toda criança precisa, numa escala progressiva de tempo, ser frustrada de acordo com sua capacidade de suportar a frustração, para que com isso ela se insira na realidade.
É
comum relacionarmos a palavra ‘psicopata’ aos assassinos em série, embora seja
uma relação equivocada. Especialistas afirmam que poucos são os psicopatas que
apresentam impulsos violentos testes criminais
Robert
D. Hare, famoso pesquisador na área de Psicologia Criminal, desenvolveu o
controverso teste Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R) para diagnosticar
níveis de psicopatia. Trata-se de uma escala de avaliação clínica de 20 itens.
Cada um marcado em uma escala de três pontos de acordo com critérios
específicos por meio de informações de arquivo e uma entrevista
semi-estruturada. Além do estilo de vida e comportamento criminoso, a lista
avalia a superficialidade da pessoa; necessidade de estimulação; tendência a
mentir, enganar e manipular; a falta de remorso; insensibilidade; controle
comportamental; impulsividade, falta de aceitar a responsabilidade por suas
próprias ações e assim por diante. As pontuações são usadas para prever o risco
de reofensa criminal e a probabilidade de reabilitação
Baseado
em teorias freudianas, que afirmam que o caráter e o comportamento da pessoa se
determinam a partir da infância, psicólogos descobriram – entrevistando mais de
30 criminosos – que todos sofreram maus-tratos quando crianças, até mesmo
abusos sexuais.
TEORIAS PSICOLÓGICAS PARA O CRIME
Recentemente,
pesquisadores estavam considerando que o comportamento agressivo poderia estar
associado à formação genética, pois haviam descoberto uma combinação de
cromossomos que sugeria uma propensão à violência. Contudo, estudos posteriores
desvalidaram esta pesquisa e levaram os criminalistas a se valerem da
literatura da Psicologia para estudar a mente criminosa. Entre as fontes está
Alfred Adler (foto), que desenvolveu o conceito de ‘complexo de inferioridade’.
Nele, Adler propõe que o indivíduo deseja sentir-se superior ao outro, para
compensar seus próprios sentimentos de inferioridade. Indo contra Freud, ele
afirmava que essa ‘vontade de poder’ era normal e mais importante na
determinação do comportamento que o impulso sexual primitivo. Em seus estudos,
Adler afirmava que o criminoso é um covarde que escapa de problemas que não
fora capaz de resolver de forma socialmente aceitável. O estudioso também
alertava de que nem a pena de morte poderia dissuadir sujeitos criminosos, uma
vez que eles se acham mais espertos que as outras pessoas e desejam sempre a
superioridade.
PSICOSE E NARCISISMO
Por
outro lado, uma rigidez exagerada na criação de um filho, somada à ausência de
afeto, podem vir a ser fortes aliados na formação de uma Psicose, “nestes casos
haverá também um comprometimento do superego, pois sua formação depende da
presença de afeto”, explica a psicanalista.
A
profissional aponta, ainda, estudos que comprovam que muitos dos psicopatas
possuem uma fixação narcisista. “As capacidades egoicas deles são deformadas
princialmente no que se referem ao juízo crítico”.
Dados
de uma pesquisa realizada pelo psicólogo Joel Norris com serial killers mostram
a influência da relação psico-afetiva na infância, com o aparecimento de
sintomas perversos.
A
partir de uma série de detalhadas entrevistas com cerca de 30 criminosos, o
estudo revelou que todos sofreram abusos sexuais ou maus tratos quando
crianças. Na visão do psicólogo e psicoterapeuta existencial Paulo Roberto
Reimão Machado, esse pode ser o fator primordial na estruturação do mundo da
existência destes criminosos, “para esse tipo de indivíduo, o assassinato não é
um meio e sim um fim. Para ele, o ato criminoso tem um sentido. Ele vive num
mundo onde esse ato tem um lugar”. Machado opina que, apesar de tais atos serem
consequências de uma realidade única e pessoal, isso não isenta o indivíduo do
papel que assumiu; ele deve responder pelas ações de acordo com as normas e a
cultura do local em que vive. “Infelizmente, ser um criminoso é uma
possibilidade aberta para o ser humano nos nossos dias. Aquilo faz sentido para
ele. Assim como a bondade, o respeito e a valorização da vida também são
possibilidades”.
REINTEGRAÇÃO POSSÍVEL?
Apesar
das inúmeras discussões suscitadas desde o final do seculo XIX, muitos psiquiatras
veem com um olhar pessimista a tentativa de inclusão social de criminosos
psicopatas. Sobre o tema, Guido Palomba, é categórico: “não há tratamento
eficaz para tal patologia. Existem inúmeros casos graves de erro judiciário,
nos quais o sociopata é condenado como preso comum. A tendência, quando sair da
reclusão, é a repetição da conduta”. O psiquiatra forense é enfático ao chamar
a atenção para a gravidade do problema, “não é necessário nem ser especialista
para saber que essas pessoas não podem ser recolocadas na sociedade. É preciso
rever tudo isso urgentemente”.
Fontes: Inacreditável e Ler Saude
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