Em 1945 a alemã
Gabriele Köpp tinha apenas 15 anos, mas a violência à que foi sujeita durante
as fatídicas duas semanas, marcou todo o resto da sua vida adulta.
O livro que ela
escreveu sobre o seu passado traumático se chama "Warum war
ich bloss ein Mädchen?" ("Porque eu tinha que nascer
menina?", ISBN 9783776626292; 16,95 Eur).
Aos 80 anos, Gabriele
Köpp tem problemas com sono, por vezes, simplesmente não consegue comer. Aos 15
anos, ela foi repetidamente violada por soldados soviéticos, sendo virgem e não
tendo nenhum conhecimento prévio sobre o sexo.
Como conta a revista alemã "Spiegel",
o seu livro é o primeiro testemunho do género. Embora ainda nos anos 1950 foi
publicado um livro autobiográfico intitulado A Woman in Berlin da
jornalista Marta Hillers (o
livro foi reeditado em 2003 e em 2008 deu a origem ao filme Anonyma – Eine Frau in Berlin). Mas o nome
da autora só foi revelado após a sua morte, na altura dos acontecimentos ela
tinha cerca de 30 anos e não se sabe se passou pessoalmente pelo inferno das
violações ou se retrata as experiências alheias.
Outra história é de Gabriele Köpp, ela escreve sobre si mesma, as vezes sem
conseguir compreender ou repensar o sucedido. Ela não consegue obter as
palavras para descrever a violação, ela escreve sobre o “local de terror”,
“caminho para o inferno”, chama os violadores de “animais” e “canalhas”.
Mulheres – vítimas
da guerra
A revista "Spiegel" escreve que
não existem os dados exactos sobre a quantidade de mulheres alemãs violadas
pelo exército soviético, o número que aparece em várias publicações aponta para
dois milhões de mulheres. Segundo a investigação do Dr. Philipp Kuwert, o especialista
de traumas e o chefe do Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia do Hospital
universitário de Greifswald, a idade média das vítimas de violações soviéticas
era de 17 anos e cada mulher foi violada em média 12 vezes. Quase metade das
vítimas possui os sindromas pós – traumáticos, incluindo os pesadelos,
tendências de suicídio, anestesia emocional. Cerca de 81% destas mulheres
adquiriram o efeito negativo directo sobre a sexualidade.
A historiadora
Birgit Beck-Heppner escreve que os soldados soviéticos usavam as violações para
intimidar as populações alemãs, mostrando que o seu governo e exército já não
lhes conseguiam garantir a segurança. Por isso, muitas destas violações eram
executados em público.
Duas semanas de terror
Gabriele Köpp e a
sua irmã fugiram de casa no dia 26 de Janeiro de 1945, porque o exército
soviético aproximou-se à sua cidade. Eles entraram em uma carruagem do comboio
de mercadorias que se dirigiu à zona já ocupada pelos soviéticos. Durante o
bombardeamento da linha-férrea, Gabriele saiu do comboio pela janela, a sua
irmã ficou por trás. Nunca mais se soube alguma coisa sobre ela.
Gabriele chegou à
uma aldeia, onde foi encontrada por um soldado soviético, que vasculhava com
uma grande lanterna nas mãos, na procura de mulheres. Isso foi apenas a
primeira violação.
Gabriele Köpp |
A jovem se escondeu
em uma casa, onde foi encontrada por um outro soldado e também violada. Após
isso, ela foi violada por mais um soldado. No dia seguinte, dois soldados a
puxaram para o coral, onde a violaram. Na parte da tarde, ela entrou em um
quarto, cheio de mulheres – refugiadas, mas de lá foi levada primeiramente
pelos soldados, depois pelo oficial.
Todo este inferno
durou duas semanas certas, 14 dias.
Quinze meses
depois, Gabriele Köpp encontrou a sua mãe em Hamburgo, que logo a mandou ficar
calada sobre as violações, embora disse que se Gabriele quiser, ela poderia
escrever sobre a sua experiência traumática no diário. Algo que a jovem começou
fazer logo a seguir.
A “doença russa”
Gabriele Köpp
lembra na conversa com o jornalista de "Spiegel" que a sua
menstruação parou por completo durante os 7 anos. Naquela época era um sintoma
bastante comum entre as alemãs e era chamado pelos ginecologistas de “doença
russa”.
Quanto Gabriele
Köpp é perguntada se conheceu o amor, se teve alguma vez as relações sexuais,
ela responde: “Não, não tive nada disso. Para mim existia apenas uma coisa – a
violência”.
Recentemente,
Gabriele Köpp também começou a pintar. Alguns das suas pinturas estão
pendurados em casa. Uma das telas mostra as etapas negras da sua vida: o quadro
é cheio de cruzes, caveiras, por cima está escrito “26 de Janeiro de 1945”. Uma
outra tela é preenchida pelas corações pintadas com a gama de cores fortes.
Como escreve "Spiegel", este tipo
de pintura é bastante comum entre as meninas de 15 anos…
Fonte: Ucrânia em África