1989. O México enfrentava uma grande crise financeira e a falta de albergues, decorrentes da crise, obrigava milhares de pessoas a vagarem pelas ruas de Guadalajara, Jaliso. Homens, mulheres e crianças que moravam nas ruas, pedindo esmolas para que cruzasse seus caminhos. Um homem observava a situação dos mendigos com desprezo. Ódio e rancor crescia dentro dele. Os mendigos o molestavam profundamente. Chegar nele e pedir esmola, ou simplesmente encostar em suas roupas era motivo suficiente para tanto desprezo, ódio. Desprezava os gemidos, a falta de higiene. "La basura viviente de la urbe", como ele mesmo dizia.
O homem gostava de armas e uma manhã tomou uma decisão. Seria o "Anjo Exterminador", uma espécie de "dona morte" que limparia as ruas de Guadalajara da obrigação de aceitar mendigos e moradores de rua. Escolheu a melhor arma (uma de fabricação suspensa há vários anos e de colecionador) pra o "trabalho", vestiu-se adequadamente (com roupa preta e um sobretudo da mesma cor). Entrou em seu carro e saiu pelas ruas da cidade procurando sua primeira vítima.
Escolheu um homem que dormia numa calçada, encolhido por causa do frio. Pegou a arma, mirou e atirou na cabeça. O tiro atravessou o crânio do morador de rua. Depois, saiu andando sem pressa alguma. Não teve nem a preocupação de recolher o cartucho da bala, que ficou caída ao lado do corpo. A polícia encontrou o corpo, mas não deu muita importância ao caso por se tratar de um indigente.
O assassino esperou poucos dias até matar sua segunda vítima. Outro morador de rua foi morto, também enquanto dormia, deitado em uma calçada. O cartucho da bala também deixou ao lado do corpo. Com essa segunda morte, a polícia começou a achar estranho: o mesmo calibre de arma, baleado na mesma parte do corpo. Analisando o cartucho da bala, a polícia já possuía uma informação importante: que a arma tratava-se de item de colecionador.
Dias depois, mais uma vítima. O mesmo modus operandi. O governo não se importava muito com o caso, já que estavam em crise financeira, investigar o assassinato de mendigos não era prioridade. Porém o caso chamou a atenção da imprensa local, que publicou manchetes sensacionalistas e o batizaram de "Lo Mataindigentes".
Passaram-se dois meses e 5 moradores de rua já haviam morrido pela arma do assassino. Os tiros eram precisos e imaginava-se que o assassino fosse um profissional da polícia ou um militar. O sexto assassinato foi cometido a plena luz do dia e em uma rua bem movimentada de Guadalajara. Algumas testemunhas escutaram o disparo e viram um carro azul que se afastava da cena do crime. Alumas pessoas até descreveram as roupas do assassino, mas ninguém conseguiu ver seu rosto.
Depois do sexto indigente morto, Lo Mataindigentes decidiu acelerar seu "trabalho" e na mesma semana matou mais três pessoas. Os jornais criavam hipóteses sobre o assunto e estavam vendendo mais que água. A cidade estava alvorotada com tamanho criminoso a solta. Psiquiatras e psicólogos traçavam um provável perfil psicológico do psicopata. A polícia não possuía informações reais dos assassinatos, embora falassem o contrário e mais que isso. Falavam que estavam a ponto de prender o assassino. Então houve outro ataque. Dessa vez a vítima foi um jovem que não parecia mendigo. Fugindo totalmente do padrão do assassino de indigentes. A polícia, claro, atribuiu a ele a culpa desse outro assassinato.
A nona vítima do assassino era uma figura conhecida no México. Tratava-se de Vicente Hernández (foto ao lado), um ladrão bem sucedido que havia feito fortuno com seus crimes. Favava vários idiomas e já havia viajado pelo mundo. O ladrão era conhecido e até admirado por não usar de armas (de qualquer tipo), de jogar "limpo" em seus roubos. Uma de suas regras era: nunca machucar ninguém. (um bandido bonzinho... hahahaha... não pude evitar a piada). Ao sair da prisão, viu-se caindo na ruína. Toda sua fortuno, prestígio e amizades evaporaram. Uma noite, o assassino dos mendigos encontrou o famoso ladrão dormindo, encolhido, em uma rua. Matou-o, da mesma forma que suas outras vítimas, e foi-se embora. Foi seu último crime.
A notícia da morte do famoso ladrão chocou os jornalistas, assim como a velhice pobre do ladrão. E foram os jornalistas que exigiram que o caso fosse investigado. O escândalo chegou na política que reluziu até a Ciudad de Mexico, capital mexicana.
Quinze dias depois, um idoso que fazia obras de caridade com os mendigos foi assassinado e a polícia, pela segunda vez, coloca a culpa no assassino dos indigentes, mesmo sabendo que o crime em questão não tinha o mesmo modus operandi que os crimes do assassino em série. E com esse outro assassinato, a população estava cada vez mais inquieta e com medo.
O clima estava tenso em Guadalajara e falsos testemunhos começaram a ser frequentes. O procurador geral do estado de Jalisco e o chefe de polícia queriam, a todo custo, prender o assassino e começaram a buscar possíveis culpados. Vários inocentes foram presos. Um dos acusados foi forçado a assinar uma declaração de culpa, logo depois ele retratou-se. E nenhum dos supostos culpados teve sua culpa comprovada pela polícia.
A polícia continuava investigando as pistas e as informações das testemunhas. Foi assim que chegou-se a um homem que estava hospedado em um hotel. Foi descrito como "um homem estranho, que tinha problema em uma perna e que passava ouvindo no rádio as matérias sobre os mendigos assassinados, dava risada e achava graça". A polícia montou um operativo e sete dias depois prendeu um homem que se encaixava na descrição do funcionário do hotel onde se hospedava o assassino. Era Osvaldo Ramírez, 39 anos e sem antecedentes criminais.
Depois de um longo interrogatório, Ramírez confessou o assassinato de uma pessoa: seu namorado que o queria abandonar. Negou os demais assassinatos. A polícia divulgou a prisão do assassino, no dia seguinte todo o país recebera a notícia. A população aceitou a versão da polícia. E o assassino também. Lo Mataindigente parou de matar e conformou-se a viver escondido, apreciando a arma que o ajudou em sua "missão", lamentou não poder ter concluído, mas ficou contente de seguir livre, com vida e convertido em uma lenda. O homem errado foi culpado pelos assassinatos dos indigentes.
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