Tudo saiu exatamente como o planejado, exceto por um pequeno detalhe: as pessoas não quiseram se mudar para lá...
No interior da China, na árida região conhecida como "Mongólia Interior", localiza-se uma das mais prósperas regiões chinesas: Ordos. Dona de 1/6 das reservas de carvão do país, testemunhou um grande desenvolvimento nos últimos anos, pegando carona na forte demanda por energia termoelétrica. Graças à isto, estima-se que este árido ponto no meio do deserto poderá assumir a liderança de renda per capita nos próximos 3 anos, tornando-se a região mais rica da China. A renda per capita de Ordos já é maior do que a da capital Beijing e Xangai.
Na esteira de todo este sucesso, e com o futuro brilhante reservado a esta região, o governo pensou alto: Por quê não antecipar os problemas que a região já enfrentava com a escassez de água construindo um novo distrito em Ordos, que pudesse abrigar 1 milhão de habitantes, sustentando o desenvolvimento desta região com uma infraestrutura de primeiríssimo mundo e 3 grandes reservatórios hídricos ?
A municipalidade de Ordos foi criada em 2001 em uma área até então ocupada por povos nômades e rurais. Com extensão de 87 mil quilômetros quadrados (57 vezes maior que o município de São Paulo), compreende o vilarejo de Yiqie a cidade de Dongsheng, já existentes além da nova área administrativa de Ordos Kangbashi, planejada para mais de 1 milhão de habitantes, mas até agora praticamente despovoada.
Em 5 anos, foi construída uma cidade com ruas largas, belos Prédios, Casas confortáveis, Centros comerciais, Praças amplas e até um Museu de Arte em formato futurista, no lugar conhecido como Kangbashi. Quase toda a população que frequenta a cidade durante o dia - servidores públicos, corpo docente, funcionários e estudantes universitários (ainda menos de mil) - mora em Dongsheng, situada a 25 quilômetros de distância. Devido ao "fracasso populacional", não há Hospitais ou Escolas funcionando, e até Internet Banda Larga não chega ainda ao Distrito, pois não há clientes que justifiquem o investimento. Isto cria um círculo vicioso que limita ainda mais a ocupação.
O alto preço do metro quadrado no novo distrito e o medo do fracasso do empreendimento fizeram com que a ocupação fosse pífia. Hoje, andar por Kangbashi parece uma busca infindável por movimento. De vez em quando vemos uma ou outra pessoa atravessando a rua, uma loja aberta aguardando ansiosamente por clientes, ou um guarda de trânsito solitário, no que provavelmente é o emprego mais fácil do mundo.
E assim, quem esperava uma população de 1.000.000 de habitantes, tem que se contentar com pouco mais de 30.000 pessoas, em sua grande maioria funcionários da administração pública.