Em apenas cem dias em 1994, cerca de 800 mil pessoas foram massacradas
em Ruanda por extremistas étnicos hutus. Eles vitimaram membros da comunidade
minoritária tutsi, assim como seus adversários políticos, independentemente da
sua origem étnica.
Por que as milícias hutus quiseram matar os Tutsis?
Cerca de
85% dos ruandeses são hutus, mas a minoria tutsi dominou por muito tempo o
país. Em 1959, os hutus derrubaram a monarquia tutsi e dezenas de milhares de
tutsis fugiram para países vizinhos, incluindo a Uganda. Um grupo de exilados
tutsis formou um grupo rebelde, a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), que invadiu
Ruanda em 1990 e lutou continuamente até que um acordo de paz foi estabelecido
em 1993.
Na noite
de 6 de abril de 1994, um avião que transportava os então presidentes de
Ruanda, Juvenal Habyarimana, e do Burundi, Cyprien Ntaryamira, ambos hutus, foi
derrubado. Extremistas hutus culparam a RPF e imediatamente começaram uma
campanha bem organizada de assassinato. A RPF disse que o avião tinha sido
abatido por Hutus para fornecer uma desculpa para o genocídio.
Mas afinal, quem são os Hutus?
Os hutus são o mais
numeroso dos três grupos étnicos presentes em Ruanda e no Burundi;
de acordo com a Agência Central
de Inteligencia dos Estados Unidos, 85% dos burundineses e 84% dosbananoes ruandenses são hutus. É um povo bantu e, tanto do ponto de vista da
linguística como culturalmente, não se distinguem do segundo grupo étnico mais
numeroso daqueles países, os tutsis.
Pensa-se que a divisão
entre estes dois grupos tem raízes sociais, uma vez que os tutsis foram a
classe política dominante da região denominada Grandes Lagos Africanos desde o século XV até sua colonização pela Bélgica.
Tampouco há diferenças físicas significativas entre os dois grupos.
As etnias Tutsis e Hútus
surgiram em grande medida pela divisão criada de uma só população pelos
colonizadores Belgas baseada em critérios diversos como altura, cor da pele e
formato do nariz. Os Belgas para criar essa diferença, procuravam padrões em
cada um que fosse mais próximo do esteriótipo europeu, os tutsis eram formados
por pessoas cujo o nariz fosse mais fino, tivessem a pele mais clara e fossem
os mais altos.
Os Belgas seguindo esses
critérios se utilizou dos tutsis para administrar os países no período de
colonização, e toda a revolta hutus seria uma represália aos tutsis, os
considerando traidores.
Como o genocídio foi realizado?
Com
organização meticulosa. As listas de opositores do governo foram entregues às
milícias, juntamente com os nomes de todos os seus familiares. Vizinhos mataram
vizinhos, e alguns maridos até mataram suas mulheres tutsis, dizendo que seriam
mortos caso se recusassem. Na ocasião, carteiras de identidade apresentavam o
grupo étnico das pessoas, então milícias montaram bloqueios nas estradas onde
abateram os Tutsis, muitas vezes com facões que a maioria dos ruandeses têm em
casa. Milhares de mulheres tutsi foram levadas e mantidas como escravas
sexuais.
Alguém tentou pará-lo?
ONU e Bélgica tinham
forças de segurança em Ruanda, mas não foi dado à missão da ONU um mandato para
parar a matança. Um ano depois que soldados norte-americanos foram mortos na
Somália, os Estados Unidos estavam determinados a não se envolver em outro
conflito africano. Os belgas e a maioria da força de paz da ONU se retiraram
depois que 10 soldados belgas foram mortos. Os franceses, que eram aliados do
governo hutu, enviaram militares para criar uma zona supostamente segura, mas
foram acusados de não fazer o suficiente para parar a chacina nessa área. O
atual governo de Ruanda acusa a França de "ligações diretas" com o
massacre - uma acusação negada por Paris.
Por que era tão cruel?
Ruanda é uma sociedade
rigidamente controlada e organizada. O então partido governante, MRND, tinha
uma ala jovem chamada Interahamwe, que foi transformada em uma milícia para
realizar o genocídio. Armas e listas de alvos foram entregues a grupos locais,
que sabiam exatamente onde encontrar suas vítimas.
Os extremistas hutus
tinham estações de rádio e jornais que transmitiam propaganda de ódio,
exortando as pessoas a "eliminar as baratas", o que significava matar
os tutsis. Os nomes das pessoas a serem mortas foram lidos na rádio. Até mesmo
padres e freiras foram condenados por matar pessoas, incluindo alguns que
buscaram abrigo em igrejas.
Como terminou?
A bem organizada RPF,
apoiada pelo exército de Uganda, gradualmente conquistou mais território, até 4
de julho, quando as suas forças marcharam para a capital, Kigali. Cerca de dois
milhões de hutus - civis e alguns dos envolvidos no genocídio - fugiram em
seguida pela fronteira com a República Democrática do Congo, na época chamado
Zaire, temendo ataques de vingança.
Grupos de direitos
humanos dizem que a RPF matou milhares de civis hutus quando eles tomaram o
poder - e mais depois que eles entraram na República Democrática do Congo para
perseguir a Interahamwe. A RPF nega. Na República Democrática do Congo,
milhares de pessoas morreram de cólera, enquanto grupos de ajuda humanitária
foram acusados de deixar muito da sua estrutura de assistência cair nas mãos
das milícias hutus.
O que aconteceu na República Democrática do Congo?
O genocídio em Ruanda
teve implicações diretas em duas décadas de conflito na República Democrática
do Congo, que custaram a vida de cerca de cinco milhões de pessoas. O governo
de Ruanda, agora gerido pela RPF, por duas vezes invadiu a República
Democrática do Congo, acusando o seu maior vizinho de deixar as milícias hutus
operarem no seu território. Ruanda também armou forças tutsis no país vizinho.
Em resposta, alguns moradores formaram grupos de autodefesa e os civis do leste
da República Democrática do Congo pagaram o preço.
Como é
a Ruanda agora?
O líder da RPF e
presidente de Ruanda, Paul Kagame, foi saudado pelo rápido crescimento
econômico do pequeno país. Ele também tentou transformar Ruanda em um centro
tecnológico e é muito ativo no Twitter. Mas seus críticos dizem que ele não
tolera dissidência e que vários adversários foram encontrados inexplicavelmente
mortos. Quase dois milhões de pessoas foram julgados em tribunais locais por seu
papel no genocídio e os líderes do massacre, em um tribunal da ONU na vizinha
Tanzânia. Agora é ilegal falar sobre etnia em Ruanda - o governo diz que isso
evita mais derramamento de sangue, mas alguns dizem que impede uma verdadeira
reconciliação e apenas coloca uma tampa sobre as tensões, que vão acabar
fervendo de novo no futuro.
Fontes: BBC Brasil e Wikipédia
Nenhum comentário:
Postar um comentário