Em 20 de janeiro de 2002, o
corpo do então prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, foi encontrado com
marcas de onze tiros em uma estrada de Juquitiba, cidade da região
metropolitana de São Paulo. Ele havia sido sequestrado dois dias antes, quando
voltava de um jantar, em São Paulo. Oito pessoas teriam participado do crime.
Segundo o Ministério Público, a morte está ligada a denúncias de corrupção na
administração pública de Santo André. Para a polícia, a morte do prefeito não
teve motivação política.
No dia
do sequestro, em 18 de janeiro de 2002, Celso Daniel (PT) saiu de uma
churrascaria no bairro dos Jardins, zona sul de São Paulo, em seu carro, que
era dirigido pelo empresário e ex-segurança Sérgio Gomes da Silva, o Sombra.
Quando passavam pela rua Antônio Bezerra, na zona sul, o veículo foi “fechado”
por outros três carros de onde saíram sete homens armados. Eles dispararam
contra os pneus e vidros do automóvel e, em seguida, sequestraram Celso Daniel.
Sombra permaneceu no local.
Segundo a polícia, Celso Daniel teria sido sequestrado por acaso, por
uma quadrilha da favela Pantanal, localizada na divisa entre São Paulo e
Diadema, liderada por Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro – que, na verdade,
teria planejado o rapto de um comerciante que acabou não dando certo.
Para a Promotoria, no entanto, o crime é político e Sombra é apontado
como mandante do crime, que teria sido encomendado porque o prefeito havia
ameaçado por fim ao suposto esquema de corrupção no setor de transportes na
cidade de Santo André, no ABC Paulista.
Não se sabe ao certo o que aconteceu nos dois dias entre o sequestro e a
morte do político. Na versão do Ministério Público, Sombra teria contratado
Dionísio de Aquino Severo para comandar a quadrilha que assassinou o prefeito.
O assessor teria, inclusive, combinado com os criminosos o caminho que faria
naquela noite, para facilitar a ação.
Mas, de acordo com a primeira investigação policial, a morte foi crime
comum. Instruído por Monstro, José Édison da Silva, o Zé Edison, alugou o sítio
em Juquitiba para servir como local de cativeiro e, com a ajuda de Marcos
Roberto Bispo dos Santos, o Marquinhos, Itamar Messias Silva dos Santos e
Rodolfo Rodrigo de Souza Oliveira, o Bozinho, roubaram os veículos usados no
sequestro.
Segundo os policiais, em 17 de janeiro, Monstro reuniu Itamar, Bozinho,
Marquinhos, Zé Edson e Elcyd Oliveira Brito, conhecido como John, para planejar
os detalhes da ação que ocorreria no dia seguinte.
Na tarde do dia 18 de janeiro, Monstro e Marquinhos saíram com um dos
carros e, por celular, falavam com os outros criminosos nos outros veículos.
Seguindo as orientações de Monstro, John, Bozinho, Itamar e Zé Edson
perseguiram o comerciante que eles planejavam sequestrar, mas o perderam de
vista. Monstro, então, teria ordenado que o grupo fosse atrás do primeiro carro
importado que encontrasse. Circulando pelas redondezas das avenidas
Bandeirantes e Tancredo Neves, Monstro teria avistado a Pajero onde estavam
Celso Daniel e o empresário Sérgio Gomes e começaram a perseguição.
Depois de sequestrado, o prefeito teria sido levado para a favela
Pantanal, antes de seguir para o cativeiro. Ainda de acordo com a polícia, no
dia seguinte, Monstro, Itamar e Bozinho descobriram pela imprensa que haviam
sequestrado o prefeito de Santo André e, por isso, teriam desistido do crime.
Segundo a polícia, neste momento, Monstro teria chamado Zé Edison e
ordenado que a vítima fosse "dispensada". No entanto, Edison afirmou
à polícia que mandou matar o prefeito porque o político olhou para seu rosto.
Foi então que ele teria contratado o menor conhecido como Lalo, na época com 16
anos, para a realização do "serviço".
Embora a primeira conclusão policial tenha classificado o caso como
crime comum, em agosto de 2005, a Polícia Civil reabriu as investigações sobre
o assassinato do prefeito. A versão da polícia contradiz a do Ministério
Público, que vê crime político por conta do esquema do esquema de desvios na
Prefeitura de Santo André. João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel,
afirmou, na época, que o suposto esquema de corrupção na cidade teria
alimentado campanhas do PT.
Julgamentos
O primeiro suspeito levado a julgamento foi Marcos Roberto Bispo dos
Santos, o Marquinhos, apontado pela Promotoria como sendo o motorista de um dos
carros que participaram do sequestro. Em novembro de 2010, ele foi condenado a
18 anos de prisão pelo envolvimento no crime.
Em maio de 2012, o juiz Antônio Augusto Hristov condenou outros
três: Ivan Rodrigues a 24 anos de reclusão; José Edison a 20 anos e Rodrigo
Rodolfo a 18 anos. As diferenças nas penas se explicam por Ivan apresentar dois
agraventes - é reincidente e coordenou a ação - e Rodolfo Rodrigues, por ser
menor de 21 anos na época do crime, teve um atenuante.
Outros dois réus, Itamar Messias da Silva e Elcyd Oliveira Brito, devem
ser julgados em agosto de 2012.
Laércio dos Santos Nunes, o Lalo, com apenas 16 anos na época do crime,
é apontado pela Polícia Civil como um dos autores dos disparos que mataram
Celso Daniel. Preso na antiga Febem (hoje Fundação Casa) do Tatuapé, fugiu em
2005 e só foi recapturado no ano seguinte, em Taboão da Serra, na Grande São
Paulo. Após ser preso pela primeira vez, o jovem confessou o crime e disse que
praticou o ato a mando de Zé Edson, por coação.
Dionísio de Aquino Severo, considerado líder da quadrilha pela
Promotoria, foi acusado e preso em 2002, mas conseguiu fugir do presídio de
Guarulhos (SP) com a ajuda de um helicóptero, em uma fuga bastante ousada. Após
ser recapturado e preso no Centro de Detenção Provisória do Belém, em São
Paulo, foi assassinado dois dias depois, antes mesmo de ser ouvido sobre o
assassinato do prefeito. No entanto, em seu primeiro depoimento à polícia, já
havia declarado que tinha uma “ligação” com Sombra.
Acusado de ser o mandante no crime pela Promotoria, Sérgio Gomes da
Silva, o Sombra, aguarda o julgamento em liberdade desde 2004. Em junho de
2011, a 11ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo
negou o recurso da defesa que pedia a anulação da sentença de pronúncia, que
deve levar o réu a júri popular. Ainda não há data para o julgamento.
Fonte: Ultimo Segundo