A Portadora da Compaixão
Em qualquer cidade, em qualquer país, vá para qualquer abrigo de animais e pergunte à primeira mulher que você ver: "vim até aqui pois preciso ver A Portadora da Compaixão". Não diga isso a um homem ou ele vai tentar acabar com sua vida. Ao falar isso a mulher vai tremer, ela o levará através de um corredor incrivelmente longo forrado com gaiolas sujas, onde eles mantêm uma variedade impressionante de animais indesejáveis, de gatos e cães até aves e macacos. A mulher continuará andando a sua frente, porém, não vai falar ou abrandar.
Ficará para você cada vez mais evidente que cada animal está doente ou ferido de alguma forma, e suas condições pioram à medida em que avança pelo corredor. Em alguns deles estão faltando olhos ou membros, outros sangram por suas feridas abertas. O piso fica mais espesso, com cabelos emaranhados e penas, as gaiolas todas cobertas de fezes, o fedor é insuportável e o ar é terrivelmente abafado. Você chegará a uma curva acentuada, depois à outra, depois outra. Sua guia irá desaparecer por volta da terceira ou quarta curva. Continue em frente, em silêncio.
Você vai notará que os próprios animais tornam-se sutilmente mais peculiares enquanto você caminha por este verdadeiro labirinto horas a fio. Você verá os animais de continentes distantes, roedores de tamanho incomum e répteis coloridos de que você nunca ouviu falar mas, da mesma forma que as criaturas se tornam mais exóticas, suas aflições também se tornarão cada vez mais horrendas. Pus escorre de feridas abertas, carrapatos inchados sobre a carne áspera. Alguns animais chegarão até você, implorando com os olhos - se eles ainda tiverem os olhos - para que acabe com sua existência sofrida. Não se atreva tocá-los nem tentar liberta-los, eles irão matá-lo, não importa quão impotente e fraco o pequeno animal parece.
Se você deseja fugir, a última curva que você pegou, volte por ela e ela o levará de volta para fora, mas saiba, você nunca se livrará dos patógenos que respirou nesse ambiente. Algumas dessas doenças não foram feitas para este mundo; contágios terríveis você pode desencadear sobre a humanidade e causar a morte de milhões.Se decidir não recuar e seguir em frente, a estranheza em torno de você irá aumentar para níveis enlouquecedores. Entranhas estarão espalhadas por todas às partes. Nas paredes um enxame de parasitas que nenhum médico poderia citar. Logo você verá cachorros sem cabeça se debatendo, sangue e esqueletos de diversos tipos de animais. Você também verá animais já extintos e outros que ainda estavam por evoluir gritarem e gemerem por comida e água que nunca virá.
Eventualmente você chegará a uma câmara perfeitamente redonda, pequena, mas incrivelmente alta. O teto é escurecido pelas sombras, mas as gaiolas nas paredes seguem para cima tanto quanto o olho pode ver. Mantenha sua cabeça para baixo, pois o sofrimento que iria testemunhar nesta sala pode destruir sua mente para sempre. Concentre-se apenas na forma escura no centro do chão, um monte indescritível de pele preta sobre um travesseiro sujo.
Faça a esta criatura apenas uma pergunta e nada mais: "O que é a compaixão?". Se você ouvir: "Estou aguardando a minha família", tudo está perdido, pois, o animal peludo irá imediatamente rasgá-lo em pedaços com suas garras invisíveis. Se você for digno desta missão, ele irá responder a sua pergunta em detalhes excruciantes. Esteja avisado que você não vai gostar nada deste conhecimento. Assim que ele terminar de falar, faça à criatura mais uma pergunta. Pergunte: "posso resolver isso?".
Se o animal falar de sua família, aproveite seus ultimos segundos para rezar, você será executado. Mas, se ele disser: "faça o que for preciso", mate o animal da forma que puder. Se você conseguir, ouvirá o eco de suas últimas palavras: "Eu fui amada". Fuce o corpo do animal e você encontrará apenas os ossos, cabelos e um colar rosa com uma marca em forma de coração enferrujado. O ar agora é fresco e puro. Apenas ossos brancos e limpos permanecem nas gaiolas. Assim que você sair desta sala estará de volta à porta de entrada do abrigo.
Este Colar é 133º objeto de 538. "O endereço que está escrito na etiqueta antiga é o seu próprio endereço".
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