A Ilha de Poveglia já foi muitas coisas: um local de
quarentena, um desterro para os infectados com a peste e, mais recentemente, um
asilo para doentes mentais. Atualmente, o local é apenas uma ilha desabitada
na Lagoa de Veneza, entre Veneza e Lido.
A particularidade desta ilha reside nas estórias populares que dela se
contam e de estar interdita a visitas, estando sob o controlo do Governo
italiano. Contrariamente às várias ilhas da Lagoa de Veneza, que estão ocupadas
por mansões ou grandes estâncias turísticas, Poveglia continua desabitada e o
que resta do seu passado vai apodrecendo com o tempo. Talvez seja pelas
estórias que se contam sobre o local que a ilha permanece desabitada.
Apesar de os habitantes de Veneza tentarem negar os rumores
que correm sobre a ilha, a verdade é que se diz é um local assombrado. Um dos
rumores que se conta é que metade do solo da ilha é composto por cinzas humanas
devido à quantidade de pessoas que foram queimadas ou enterradas no local
durante a peste negra. Outro é que o asilo psiquiátrico era dirigido por um
talhante e torturador que se suicidou por culpa da torre da ilha e sobreviveu à
queda, sendo foi estrangulado por fantasmas dos antigos pacientes. Rumores.
Também se diz que os pescadores locais não pescam nas redondezas
da ilha, com medo que as suas redes apanhem os ossos dos que lá foram
enterrados.
A história de Poveglia remonta à civilização romana, quando
o local era utilizado para isolar as vítimas da peste. Séculos mais tarde, já o
local era permanentemente habitado, Veneza foi atacada por Génova e os
habitantes de Poveglia foram deslocados para Giudecca. Na mesma altura, o
Governo de Veneza construiu um forte para, para poder combater a frota do
inimigo. O forte, em forma de octógono, ficou conhecido como “o Octógono”, e lá
permanece nos dias de hoje. A ilha ficou então desabitada e quando surgiram os
primeiros surtos de peste negra na Europa tornou-se num lazareto, um local de
quarentena para quem entrasse em Veneza.
Mas o confinamento no lazareto de Poveglia nem sempre era
uma sentença de morte. Apesar de ser um local aborrecido, como escreve Ransom Riggs, que visitou a ilha para perceber
melhor os rumores, não era necessariamente desagradável. Os habitantes
temporários tinham o seu próprio quarto – por vezes até uma pequena casa – e
podiam receber e enviar correspondência.
Porém, durante os piores surtos da peste, Poveglia era
invadida por milhares de infectados, que acabavam por lá morrer. Devido ao
elevado número de mortos, os cadáveres eram enterrados em valas comuns ou
queimados, quando as valas estivessem cheias. As estórias locais indicam que
morreram em Poveglia mais de 160 mil pessoas vítimas da peste.
Agricultura e pesca são uma realidade
Escavações recentes na ilha de Lazareto Vecchio, perto de
Poveglia, revelaram várias valas comuns. No meio dos restos mortais, os peritos
encontraram vários cadáveres com pedras na boca, o que significa que, segundo
as crenças medievais e renascentistas, se tratava de um vampiro, o que serviu
para alimentar ainda mais os rumores da ilha.
O lazareto de Poveglia foi encerrado em 1814 e a ilha ficou
desabitada até 1922, altura em que foi construído um asilo psiquiátrico. Os
dados oficiais da instituição indicam que o espaço era um lar para idosos.
Porém, várias visitas à ilha depois do encerramento da instituição, em 1968,
indicam que a instituição era mais um asilo para doentes com perturbações
mentais que um asilo.
Verdade ou não, desde o fecho do asilo a ilha tem estado
desabitada, havendo apenas o cultivo de pequenas vinhas pois, segundo os
agricultores, o solo naquele local é bastante rico.
Um dos rumores que Ransom Rigs constatou ser mentira é o
facto de os pescadores não pescarem nas redondezas da ilha. Na sua visita, o
jornalista e blogger encontrou várias redes depositadas no canal que separa a
ilha do octógono.
Averiguar se as estórias que se contam sobre o local são
verdadeiras ou não é também difícil, já que visitar a ilha é difícil, uma vez
que os gondoleiros se recusam a transportar pessoas para o local.
Poveglia foi leiloada em maio
O Estado italiano pôs à venda a ilha de Poveglia, em
Veneza, que tem fama de ser um local assombrado. Para evitar que o local
se torne mais um pólo de especulação imobiliária para fins turísticos, como tem
acontecido na região, um grupo de cidadãos criou um movimento que pretende
entrar no leilão e garantir o uso público da ilha.
Poveglia tem sete hectares, está desabitada e tem uma longa
história. Foi palco de fuga da população aquando das invasões bárbaras, de
disputa por venezianos e genoveses no séc. XIV e, no séc. XVIII, transformada
em local de quarentena para os barcos que chegavam a Veneza. Descobertos casos
de peste, tornou-se asilo para pessoas com doenças infeciosas, começando aí a
sua má fama e as histórias de fantasmas de mortos que voltavam para assombrar a
ilha.
No início do séc. XX foi transformada num hospital para
idosos, acrescentando à lenda histórias de experiências cruéis em doentes
mentais. A fama de local assombrado foi potenciada por reportagens de programas
como o «Ghost Adventures», do Travel Channel, ou «Scariest Places on Earth», da
Fox. Chegaram a chamar-lhe a «ilha mais assombrada do mundo».
Para Poveglia, o Estado italiano procura alguém que adquira
os direitos de exploração da ilha durante 99 anos.
Um grupo de habitantes de Veneza decidiu fazer algo e criou
a associação «Poveglia per Tutti», procurando reunir dinheiro para manter a
ilha no domínio público. Para já tem quatro mil seguidores no Facebook.
Ao todo são 45 os bens propriedade do Estado italiano que
serão colocados em hasta pública até ao final do ano. Os primeiros cinco, que
poderão ser licitados até 6 de maio, incluem Poveglia, mas também o castelo de
Gradisca, uma antiga fortificação militar em Trieste, o antigo convento
Monteoliveto de Taranto e uma casa senhorial em Loreto.