José Augusto do Amaral, mais conhecido como Preto Amaral (Minas Gerais, 1871 – 12 de julho de 1927) é considerado o
primeiro assassino em série brasileiro.
Amaral era filho de
escravos do Congo e Moçambique. Quando estava com 17 anos se beneficiou da Lei
Áurea da Princesa Isabel para ser alforriado. Logo depois, sem muita opção de
trabalho, acabou por se alistar ao exército e serviu em diversas cidades Brasileiras,
e até na Guerra de
Canudos esteve.
Deserdou por diversas vezes em batalhões que serviu, seja no exército, ou na
guarda policial, e por fim acabou preso, por isso passando meses na cadeia.
Preto do Amaral |
No ano de 1926, quando
já estava com 55 anos e tinha uma vida de andarilho e vivia de sub-empregos
(bicos), cometeu o seu suposto primeiro crime. Foi acusado de estrangular e
sodomizar um rapaz de 27 anos. O corpo foi encontrado nas imediações do Aeroporto Campo de Marte. Em alguns dos
seus crimes ele cometia o ato de necrofilia nos corpos ainda quentes de suas
vítimas. Depois desse, supostamente cometeu mais outros dois outros crimes
iguais, e ainda uma tentativa estrangulamento e atentado violento ao pudor, mas o rapaz
que ele tentara esta investida conseguiu escapar da morte porque o
"Preto" teria se assustado e o deixado no local, e em seguida foi até
a delegacia denunciá-lo.
Logo depois disso ele
foi preso, torturado pela polícia e acabou confessando os seus supostos crimes.
Já era famoso em São Paulo antes mesmo da sua prisão, os jornais da época
estampavam notícias sobre um assassino em série na cidade e o mesmo já tinha as
alcunhas na mídia local de "O mostro Negro" e "O Diabo
Preto".
Depois de preso foi
examinado por um psiquiatra que numa das consultas ouviu uma história que ele
contou sobre o tamanho exagerado de seu pênis, e que sempre teve dificuldades
de se relacionar com uma mulher, porque, segundo ele, nenhuma delas queria ter
relações sexuais devido ao exagero do tamanho do seu membro.
Ele também contou que
passou por uma "macumba" quando menino e que depois disso o seu pênis não
mais parou de crescer. Na época isso acabou relacionando o tamanho do seu pênis
ao tamanho de sua bestialidade (comum pensamento da população sobre os tarados
na época).
Alguns casos continuaram
a acontecer, mesmo com o Preto Amaral preso, e com isso ele acabou virando uma
lenda. A população revoltada queria o seu linchamento,
ou morte, mas o Preto Amaral faleceu antes mesmo de ser julgado, cinco meses
depois de ser preso no ano de 1927.
Apesar de nunca ter sido
julgado, ele é considerado o primeiro serial killer brasileiro e hoje sua
história faz parte do Museu do Crime em São Paulo.
Chegou até mesmo a ser
realizada uma montagem teatral chamada “Os crimes do Preto Amaral” para contar
a história do suposto serial killer.
CRIMES
13 de fevereiro de 1926. O menino “Rocco”,
pequeno engraxate de 9 anos, trabalhava nas imediações da praça da Concórdia,
próximo ao Teatro Colombo, no Brás. Cansado, estava pronto para ir embora. A
garoa fina que caia espantava os fregueses naquela tarde cinzenta de São Paulo.
As poucas pessoas que passavam pela rua estavam apressadas, tentando escapar da
chuva.
Um homem alto, negro, aproximou-se de “Rocco”, pedindo que o ajudasse a
carregar uma caixa com roupas, serviço pelo qual ele pagaria 4$000 (quatro mil
réis). O menino, excitado com a oportunidade de ganhar um dinheiro extra,
aceitou depressa. Seguiu-o da Avenida Celso Garcia até a ponte sobre o rio
Tamanduateí, próximo à estação da Cantareira. Ao entrarem pela rua João
Theodoro, “Rocco” sentiu um frio no estômago ao ver-se desprotegido pela pouca
luz... A rua estava sem iluminação. Antes que pudesse ficar com medo e sem
nenhum aviso, o homem atacou o menino diretamente no pescoço, tentando
estrangulá-lo. O garoto lutou bravamente com todas suas forças, mas, sem
conseguir respirar, desmaiou. Julgando-o morto, o estranho arrastou-o para
debaixo da ponte, rasgou suas roupas e preparou-se para violentá-lo, quando num
golpe de sorte, um carro aproximou-se e estacionou. Receoso de ser flagrado, o
estranho largou “Rocco” e fugiu. O menino acordou um tempo depois, gemendo sem
parar. Com muito esforço, machucado e enlameado, chegou até a rua. Duas moças
que passavam por ali viram o menino e chamaram imediatamente um policial.
O motorista de táxi Basílio Patti estava saindo para trabalhar quando foi
parado pelo grupo, ao atravessar a ponte da Rua João Theodoro. O policial pediu
a Patti que levasse “Rocco” até a casa dos pais.
Aturdida com a história contada pelo filho, a família não deu queixa a polícia.
O criminoso tinha certeza de ter matado o menino. Depois de vagar a noite
inteira pelo centro da cidade, voltou ao local no dia seguinte para dar vazão
aos seus desejos sexuais. Surpreso, não achou cadáver algum...
5 de dezembro de 1926. Sob as árvores da Avenida Tiradentes, sentado em um
banco Antônio Sanchez descansava e pensava em como faria para comprar uma
refeição naquele dia. Tinha vindo de Barra Bonita, interior de São Paulo, para
trabalhar na capital. Antônio era franzino, doente e um pouco afeminado.
Aparentava ter bem menos idade do que seus 27 anos. Morava em um apartamento
alugado na Lapa, mas não sabia como iria arcar com as despesas. Estava morrendo
de fome e não tinha conseguido ganhar dinheiro algum.
Um homem desconhecido, negro e alto, sentou-se ao seu lado. Disse chamar-se
Amaral e começaram a conversar. Sanchez vendo que ele fumava, pediu-lhe um
cigarro, comentando sobre a miséria em que se encontrava. Não tinha nem como
pagar comida e sentia muita fome. Amaral, dando uma de bom samaritano, chamou o
rapaz para almoçar com ele no Botequim do Cunha, que ficava em uma esquina da
rua Teodoro Sampaio. O convite foi aceito por Sanchez num piscar de olhos.
Depois de ver o rapaz almoçar com o prazer de quem aplaca a dor da fome, Amaral
convidou-o para ir com ele até o Campo de Marte para ajudá-lo a fazer um
serviço. Seria bem pago. Antônio sentiu-se finalmente com sorte. Além de comer,
acabava de arrumar um trabalho que ainda lhe renderia uns trocados. Confiando
no novo “amigo”, seguiu-o.
Ao chegarem ao Campo de Marte, seguindo uma picada que Amaral parecia conhecer
bem, começou o ataque. Estavam em um lugar ermo, atrás de um bambual. Antônio
reagiu sem acreditar no que acontecia.
Os golpes de Amaral vinham sem trégua, e o rapaz tentava, em desespero,
escapar. Mas o homem era bem mais forte que ele. Depois de uma luta desigual,
Antônio Sanchez foi estrangulado. Ao ver o moço desfalecido, abaixou-se para
ouvir se seu coração ainda batia. A lembrança do menino fujão de tempos atrás
permanecia em sua memória. Com a certeza de que o rapaz não dava sinais de
vida, violentou-o e fugiu em seguida. Para ele, não fazia diferença o fato de
fazer sexo com Antônio já morto.
Véspera de Natal de 1926. José Felippe de Carvalho, 12 anos, morava no Alto do
Pari e conhecia bem os locais por onde perambulava. Às 16 horas, brincava com
seu estilingue caçando passarinhos pela redondeza. Mais tarde, pediu permissão
a mãe para ir a missa de Natal da Igreja de Santo Antônio. Ela regozijada com a
religiosidade do filho, permitiu.
Chovia em São Paulo. Caminhando pelas proximidades do Canindé, José Felippe
avistou um homem vendendo balões de gás. Fascinado, o menino aproximou-se e
pediu um. O homem deu-lhe de presente e puxou conversa. Perguntou onde ele
morava e o que fazia ali sozinho, e não deixou de reparar que o garoto tinha no
bolso um estilingue. Alguns minutos depois, o balão de gás de José Felippe
estourou. Amuado, pediu que o homem lhe desse mais um. O simpático sujeito
satisfez-lhe a vontade e, continuando a conversa, comentou que em uma mata
perto dali havia um local com muitos passarinhos. Se o garota quisesse
acompanhá-lo, poderia mostrar-lhe o local.
O menino, feliz da vida, concordou. Amaral, seguido por ele, foi até o Campo de
Marte. Da mesma maneira que fez com Sanchez, atacou José Felippe, cometeu
homicídio e, em seguida, deu vazão a seus desejos sexuais.
A mãe do menino ficou desesperada quando o filho único não voltou para casa.
Saiu pelas ruas, de igreja em igreja, procurando-o freneticamente. Quando sua
triste busca em nada resultou, deu queixa em uma delegacia do Brás pelo
desaparecimento.
Como no caso de Sanchez, o corpo da vítima não foi localizado. José Felippe só
seria reconhecido dias depois pelas roupas que vestia, quando sua mãe tomou
conhecimento por meio de jornais que a polícia havia encontrado cadáveres de
meninos sem identificação.
Ano-Novo. 1º de janeiro de 1927. Antônio Lemes, 15 anos e compleição franzina,
estava de folga do trabalho. Era operário em uma fábrica de tecidos. Saiu de
casa pedindo à mãe que guardasse seu almoço. Lemes disse que chegaria mais
tarde, pois ia fazer um serviço extra para uma senhora no bairro da Penha.
Amaral, aproveitando o feriado, apostava dinheiro nos jogos de azar que se davam
nas proximidades do Mercado Central. Logo avistou Lemes entre outras crianças
que brincavam por ali. Levantou-se e convidou o garoto para almoçar com ele no
restaurante Meio-Dia, como fazia habitualmente. O rapaz aceitou.
Comeram, beberam vinho, e Amaral ofereceu 2$000 (dois mil réis) a ele para que
o acompanhasse até a Penha. Como Antônio conhecia bem o bairro e tinha mesmo
que fazer um serviço ali, concordou de bom grado.
Os dois seguiram para o largo do Mercado, onde tomaram o bonde. No ponto final
da linha, seguiram a pé pela estrada de São Miguel. De vez em quando paravam em
bares pelo caminho, para que Amaral tomasse uns tragos.
Na altura do quilômetro 39, Amaral pegou um atalho da estrada recém-construída.
Quando se afastaram o suficiente, enlaçou fortemente o rapaz com o braço
esquerdo, esganando-o com a mão direita. Antônio, pego de surpresa, não
resistiu. Apenas empalideceu e desmaiou. Sem querer arriscar, Amaral enrolou um
cinto de brim branco, de 85 centímetros de comprimento no pescoço de sua vítima
e apertou-o com máxima força. Depois jogou-o no chão, tirou-lhe a calça,
rasgou-lhe a camisa e fez sexo com o cadáver. Depois fugiu.
Dessa vez, o assassino não teria a mesma sorte. O corpo de Antônio Lemes foi
encontrado no dia seguinte.
INVESTIGAÇÃO E PRISÃO
Ao
começarem as investigações na área do Mercado, perto de onde o rapaz morava,
alguém disse tê-lo visto na companhia de um homem negro. A polícia, sem perder
tempo, começou a investigar todos os homens negros com antecedentes de
pederastia, uma vez que Lemes havia sido sodomizado. Os jornais também
noticiaram o crime com alarde.
A primeira
testemunha a comparecer à delegacia, Roque Siqueira, havia lido as notícias
sobre o crime nos jornais e informou ter visto, no primeiro dia do ano, um
sujeito negro convidando um menino para almoçar com ele. Almoçaram no mesmo
restaurante em que Siqueira estava. Ele viu o adulto pagando algum dinheiro ao
garoto. A testemunha disse à polícia que o sujeito era conhecido nas imediações
do Mercado como um vagabundo que vivia da exploração do jogo de cartas naquela
redondeza.
Os investigadores,
acompanhados de Siqueira, saíram a procura do suspeito. Não demorou muito para
que o encontrassem.
José
Augusto do Amaral foi preso pelo assassinato de Antônio Lemes, mas não demorou
a confessar seus crimes anteriores. Segundo ele, os atos de pederastia eram
praticados somente após a certeza da morte da vítima, como se esse argumento
atenuasse a sua culpa. As declarações do “Preto Amaral” foram feitas com
naturalidade e sem a menor demonstração de emoção, segundo os relatos dos
policiais e jornais da época.
Organizaram-se
então diligências para pesquisar o Campo de Marte, onde o criminoso alegou ter
deixado os outros corpos. Sem hesitar, Amaral guiou os investigadores até um
local próximo a um bambual, onde foi encontrada uma ossada humana. Mais
adiante, sob a ramagem de uma pequena moita ressequida, jazia o cadáver de
outro menino.
A polícia estava
pronta para processar Amaral e colocá-lo na cadeia pelo resto da vida, mas
outra confirmação ainda surgiria: O Sr. Carmine, pai do engraxate ‘Rocco”,
procurou a polícia e contou o que acontecera com seu filho no ano anterior. O
menino foi trazido ao gabinete do delegado, onde reconheceu “Preto Amaral” como
seu agressor.
Outro que
compareceu à delegacia foi Antonio Manoel Neves Filho, 16 anos, que quase caiu
na armadilha do mesmo assassino. Ele foi abordado na rua Voluntários da Pátria
e seguiu Amaral até Ponte Grande. Por sorte, quando estava no meio do matagal,
conseguiu fugir. Também reconheceu “Preto Amaral” como seu agressor.
Mais uma vítima se
apresentou, Manoel Antonio Neves, 13 anos. Neves contou ter sido convidado por
um negro de nariz recurvo para acompanhá-lo até a Estação da Cantareira, com a
finalidade de ajudar a trazer um embrulho para o Campo de Marte, onde estavam.
Pelo serviço, receberia 1$000 (mil réis). Depois de alguns na companhia do
homem, Manoel achou que alguma coisa estava errada e resolveu fugir. Ele também
reconheceu formalmente José Augusto do Amaral como o homem que o “contratou”.
A polícia não
conseguiu comprovar a culpa de Amaral no desaparecimento de outras crianças
ocorridos na mesma época:
Antonio Ramalho
Filho, 16 anos, desapareceu em 23/12/1926.
Luis Bicudo, 15
anos, encanador, desapareceu em 25/12/1926.
Sarkis Delclarei,
14 anos, desapareceu em 27/12/1926.
Vicente Scagelli,
17 anos, desapareceu em 27/12/1926.
Luis Hirah, 15
anos, telegrafista, desapareceu em 31/12/1926.
Estavam confirmadas
todas as declarações de homicídio do suspeito, que dizia estar se sentindo
melhor depois de sua confissão, mas ele não reconheceu ter abordado as vítimas
vivas que o reconheceram na delegacia.
Segundo o “Preto
Amaral”, suas noites estavam sendo atormentadas pelos fantasmas das pessoas
para as quais fez algum mal. Esperava, com a admissão de seus crimes, viver em
paz.
Enquanto estava
preso, à espera de julgamento, “Preto Amaral” foi submetido a exames físicos e
psiquiátricos. Os médicos concluíram que se tratava de criminoso sádico,
necrófilo e pederasta, sendo a criança seu objeto especial. Tinha habilidade de
praticar seus crimes sem ser descoberto e, se não fosse sua confissão,
dificilmente os restos mortais de suas vítimas seriam encontrados.
No exame físico,
foi constatado que seu órgão genital tinha um tamanho descomunal. Segundo
Amaral, uma “mulher da vida” jamais o atendia duas vezes. Ele atribuía esse
fato a uma simpatia que fez quando adolescente. Aconselhado por amigos, teria
marcado numa bananeira o tamanho desejado para seu pênis, com dois traços
riscados a faca. Passado algum tempo, ao perceber que seu pênis se desenvolvia
sem parar, correu até a árvore para modificar o traçado, mas já era tarde. Ela
crescera demais e a distância entre os traços também. Desesperado, Amaral
derrubou-a a machadadas na tentativa de interromper o processo, mas, segundo
ele, o “encanto” permaneceu.
Na face anterior do
braço esquerdo tinha tatuado desde os 14 anos, as iniciais do nome de sua mãe,
Francisca Cláudia.
Era analfabeto,
inteligente, tocava instrumentos musicais de ouvido e tinha excelente memória.
Era ferreiro e cozinheiro. Morou em Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Ceará,
Amazonas, Pará, Bolívia, Argentina, Uruguai, Rio Grande do Sul e, finalmente,
São Paulo.
Alegava ter
alucinações depois de ter cometido seu primeiro crime. Jamais mostrou algum
sinal de arrependimento sobre seus atos. Não se sabe se matou meninos nos
locais onde morou antes de chegar a São Paulo.
Amaral não refletia
sobre suas ações; era completamente impulsivo em relação a elas. Não percebia
nada de anormal em seu comportamento.
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