O Massacre
de Badajoz ocorreu nos dias
posteriores à Batalha de
Badajoz, durante a Guerra Civil
Espanhola, e foi o resultado da repressão exercida pelo exército sublevado contra os civis e militares defensores
da Segunda
República, após a tomada da cidade de Badajoz pelas
forças sublevadas contra a Segunda República, em 14 de agosto de 1936.
Constitui
um dos acontecimentos mais controvertidos da Guerra Civil Espanhola, pois o
número de vítimas desta matança varia significativamente dependendo dos
historiadores que a investigaram. Além disso, ao resultar vencedor da contenda
o bando sublevado, nunca houve uma pesquisa oficial em relação ao sucedido na
cidade estremenha.
Em qualquer caso, as estimativas mais comuns indicam que entre 2000 e 4000
pessoas foram executadas, em fatos tipificados por várias associações de
direitos humanos como crimes contra a
humanidade.1 Também
é considerado provado que foi cometido genocídio, e desde 2007 existem várias queixas nesse sentido.
No
comando das tropas que perpetraram o massacre de Badajoz encontrava-se o
general Juan Yagüe,
que, após a guerra civil, foi designado ministro
do Ar pelo general Franco. A partir destes fatos, Yagüe foi
popularmente conhecido como o
açougueiro de Badajoz.
Segundo
o censo, Badajoz
tinha 41.122 habitantes em 1930,
pelo que, estar correcta a estimativa de 4000 executados, a percentagem de
retaliados atingiu 10% da população.
A TOMADA DE BADAJOZ
A
ocupação de Badajoz fez parte do avanço desde a Andaluzia do exército sublevado
para norte dapenínsula.
O seu assalto era vital para eles, pois permitia a união do exército do sul com
o do general Mola que dominava o norte. A
cidade encontrava-se isolada após a queda de Mérida uns dias antes. Oassédio foi levado a cabo por
2250 legionários,
750 regulares marroquinos, e cinco baterias de artilharia, sob o comando do entãotenente-coronel Juan Yagüe. O ataque
final ocorreu na tarde de 14 de agosto, após o bombardeio da cidade por terra
(através da artilharia) e ar (realizado por bombardeiros alemães Junkers
Ju 87, os famosos Stukas)
durante a maior parte do dia. O recinto murado era defendido por cerca de 3000 milicianos republicanos e 500 soldados, sob o
comando do coronel Ildefonso Puigdendolas. Após abrir uma brecha nas muralhas a leste, junto à Porta da Trindade, e conseguir também o acesso à alcáçova, pela Porta de Carros, uma encarniçada luta corpo a corpo foi travada, e a cidade
caiu nas mãos do exército sublevado.
ANTECEDENTES
A situação na Estremadura ao estourar a guerra civil, a 18 de julho de 1936, continha uma série
de aditamentos que a diferenciavam do restante do país, especialmente devido à Lei de Reforma
Agrária, que outorgou aos camponeses (mais
de 50% da população ativa) a possibilidade de serem donos
das terras que trabalhavam, através da desapropriação aos latifundistas e
que produziu um enorme confronto entre classes sociais, sobretudo quando em
março os camponeses de Badajoz decidiram acelerar a entrada em vigor da lei e
invadiram os imóveis aos que ia afetar.
Desde o estouro da
guerra, ocorreram na zona alguns sangrentos acontecimentos, denominados como
"repressão republicana" que se tornaram fatais para o desenlace de
Badajoz, pois generais como Queipo de Llano ou Juan Yagüe promoveram ações
criminosas exemplarizantes para retaliar estas matanças.
Tanto o historiador Francisco Espinosa (La
columna de la muerte, 2001), como o ex prefeito socialista e hoje deputado
provincial Cayetano Ibarra (La otra mitad de la historia que nos contaron,
2005), relatam estes fatos, especialmente Cayetano Ibarra, que escreve no livro
citado:
Localidades como Almendralejo, Azuaga, Burguillos del Cerro, Campanario, Campillo de Llerena, Quintana, etc., foram palcos da repressão republicana nos primeiros momentos do alçamento. Mas em nenhum destes lugares, como em Fuente de Cantos, os fatos ocorridos como reação das esquerdas frente da sublevação militar, ocorreram de modo tão imediato. |
Os fatos aos quais se
refere o texto foram o encerramento de 56 pessoas numa igreja de Fuente de Cantos,
e a queimada posterior desta, entre 18 e 19 de julho de 1936. Pereceram 12
pessoas, oito delas queimadas. Segundo conta Cayetano Ibarra neste livro, as
tropas franquistas, após a tomada da povoação, matariam cerca de 300 pessoas.
Esta operação
repetiu-se em Almendralejo a 7 de agosto com
os encerrados no cárcere, dos quais 28 foram executados, e em Badajoz, onde
também se produziram execuções entre os partidários do bando franquista.
ACONTECIMENTOS
Durante toda a jornada,
foram produzidos assassinatos pelas ruas da cidade, inclusive de bebês de
escassos meses, sobretudo por legionários mouros. O
mesmo dia 14, Yagüe ordenou o confinamento de todos os prisioneiros -a maioria
civis- na Praça de touros. Instalaram-se focos nos
tendidos para iluminar a arena, e essa noite começaram as execuções
indiscriminadas e sem juízos prévios. Segundo artigos publicados pelos
correspondentes de Le Populaire, Le Temps, Le Figaro, Paris-Soir, Diário de Lisboa eChicago Tribune,
houve execuções em massa, e as ruas apareciam semeadas de cadáveres. Durante
a primeira jornada, existem testemunhos de que houve mil fuzilados.12O
jornalista norte-americano Jay Allen, na sua crônica para o Chicago
Tribune indicou 1800 vítimas (homens e mulheres) apenas na primeira
noite.
A 15 de agosto,
o enviado de Le Temps , Jacques Berthet, enviava a
sua crônica:
Ao redor de mil duzentas pessoas foram fuziladas (…) Vimos as calçadas da Comandância Militar encharcadas de sangue (…) Os arrestos e as execuções em massa continuam na Praça de Touros. As ruas da cidade estão crivadas de balas, cobertas de vidros, de telhas e de cadáveres abandonados. Somente na Rua de São João há trezentos corpos (…). |
A 18 de agosto, Le
Populaire publicava:
Elvas, 17 de agosto. Durante toda a tarde de ontem e toda a manhã de hoje continuam as execuções em massa em Badajoz. Estima-se que o número de pessoas executadas ultrapassa já os mil quinhentos. Entre as vítimas excepcionais figuram vários oficiais que defenderam a cidade contra a entrada dos rebeldes: o coronel Cantero, o comandante Alonso, o capitão Almendro, o tenente Vega e um certo número de suboficiais e soldados. Ao mesmo tempo, e por dezenas, foram fuzilados os civis perto da arena. |
Na Terça-Feira 18 de agosto,
o Premio Nobel de Literatura francês François Mauriac, publicou em primeira plana de Le
Figaro um artigo acerca dos acontecimentos de Badajoz que comocionou a
Europa. A 30 de agosto apareceu no Chicago
Tribune o famoso artigo de Jay Allen (ver quadro inferior), no que
narrou com grande crudeza os terríveis acontecimentos que presenciara durante a
sua estadia na cidade.
O jornalista português Mário Neves foi
um das testemunhas de primeira mão dos acontecimentos de Badajoz, nas crônicas
que remeteu ao Diário de Lisboa, algumas das quais foram censuradas
pelo governo de António de Oliveira Salazar, afim ao bando
franquista. Neves
regressou para Portugal horrorizado pelo espetáculo do qual fora
testemunha, e jurou não voltar nunca a Badajoz, mas fê-lo em 1982, para percorrer os
lugares onde presenciou estes fatos num documentário para a televisão.
O método para as
execuções foi o fuzilamento ou metralhamento indiscriminado em grupo de
pessoas participantes na defesa da cidade ou suspeitosas de simpatizarem com a
República. Foram levadas a cabo pelos legionários e regulares mouros procedentes do
norte da África,
forças da Guarda Civil e comandos locais
de Falange Espanhola. Há versões que apontam que
os regulares mouros não participaram na repressão, pois partiram imediatamente
para a frente). Posteriormente, a maioria dos corpos foram queimados junto às
taipas do Cemitério de São
João. Segundo
testemunhos de alguns sobreviventes, os fuzilamentos eram em grupos de 20, e
logo transladavam-se os cadáveres em camiões para o antigo cemitério, onde eram
incinerados e posteriormente depositados em valas comuns. Também
houve fuzilamentos em outras zonas da cidade. Entre os retaliados
encontravam-se homens e mulheres afetos à República, operários, camponeses,
militares que participaram na batalha, autoridades locais ou simples suspeitos.
Após a queda da cidade,
o prefeito Sinforiano Madroñero e
o deputado Nicolás de Pablo, ambos
socialistas, cruzaram a fronteira e fugiram para Portugal,
mas foram localizados por efetivos do regime português e entregues às tropas
franquistas, que os fuzilaram em Badajoz a 20 de agosto,
num frontão e sem juízo prévio.
Posteriormente
apareceram testemunhos, publicados a 27 de outubro pelo
jornal La Voz, de Madrid, de que os
fuzilamentos na Praça de touros se tornaram numa festa pelos executores, com
público nas suas gradas presenciando as matanças, e que até mesmo algumas
vítimas foram bandarilhadas e
mutiladas, embora este extremo nunca pôde ser verificado. Por
outro lado, existem evidências do sadismo com
que foi levado a cabo o extermínio. Após
conhecer estes fatos, a propaganda franquista publicitou algumaslendas e mitos para tentar
ocultar o massacre, e alguns dos cronistas internacionais foram desprestigiados
ou ameaçados.
TESTEMUNHOS
Embora devido aos anos
transcorridos apenas restem sobreviventes entre as testemunhas destes
acontecimentos, o historiador pacense Francisco
Pilo localizou vários deles e plasmou os seus testemunhos num
dos seus livros, Ellos lo vivieron, entre os que se destaca o de um
empregado do município:
A guarda civil foi buscá-lo à sua casa às três da madrugada de 15 de agosto, "porque havia trabalho". (...) Um dos civis disse que pegara o camião do curral, que tínhamos de ir para a Praça de touros. (...) Às três e meia chegaram à praça. "Dentro da arena, à mão esquerda, havia vários mortos em fila e disseram-nos que os carregássemos no camião e os levássemos para o cemitério". Voltaram para a praça e dentro "havia mais mortos, porém, nem todos juntos, mas um montão aqui e outro mais para lá. Depois soube que os tiravam por turnos e os iam fuzilando. Naquele dia demos pelo menos seis viagens". |
CONSEQUÊNCIAS
A massacre de Badajoz teve uma grande
influência no desenvolvimento da guerra. A publicação na imprensa estrangeira destes
acontecimentos ocasionou que Franco a partir de então ordenasse o cesse de matanças
que pudessem ter grande transcendência mediática e prejudicassem a imagem dos
sublevados, e por outro lado, a propagandarepublicana publicitou enormemente
este fato, tornando-o em justificante de outros acontecimentos posteriores,
como os Massacres de
Paracuellos.
A partir destes fatos,
o oficial nazista Hans Von
Funk, um dos poucos militares de alta graduação alemães que
estiveram presentes nas operações do Exército Sul, enviou um informe a Berlim no que desaconselhava o envio de tropas
regulares alemãs a Espanha, porque, textualmente: "ele é um
soldado acostumado à luta, que combateu na Françadurante a Grande Guerra, mas que nunca contemplou a
brutalidade e a ferocidade com que o Exército Expedicionário da África
desenvolve as suas operações. Por isso desaconselha o envio de tropas regulares
alemãs a Espanha, porque, ante tal selvagismo, os soldados alemães desmoralizar-se-iam."
Segundo a Sociedade
Benéfica de Historiadores Aficionados e Criadores nas suas páginas
sobre a Memoria Republicana,12 o jornalista norte-americano Jay Allen disse
que houve 4000 execuções, César
M. Lorenzo aproximadamente 1500, Manuel
Tuñón de Lara 1200 antes
do 15 de agosto, Ricardo
Sanz mais de 3000 e James
Cleugh 2000. O
filósofo cristão Jacques Maritain protestou
contra o crime de "centos de homens".
O escritor e militante
socialista Julián
Zugazagoitia escreveu que "centos de prisioneiros
foram levados para a Praça de touros onde, presos como cães de caça, eram
empurrados à arena para alvo das metralhadoras que, bem localizadas,
destruíam-os com rajadas implacáveis". Zugazagoitia foi fuzilado em
novembro de 1940.
A magnitude da matança
transluze-se, em maiores proporções, na resposta que o general sublevado Juan Yagüe deu
ao jornalista John
T. Whitaker, do New York Herald
Tribune, quando este o interrogou em relação ao sucedido:
Evidentemente que os matamos. Que esperava você? Que ia levar 4000 prisioneiros vermelhos conmigo, tendo a minha coluna de avançar contra-relógio? Ou ia soltá-los na retaguarda e deixar que Badajoz fosse vermelha outra vez? |
Hugh Thomas, que estudou o caso em 1959,
afirma que os legionários mataram todos o que portavam armas, incluídos uns
milicianos que se refugiaram no altar-mor dacatedral, e
que Badajoz ficou semeado de cadáveres (embora afirme que possivelmente fossem
menos dos 4000 que relata Jay Allen). Segundo Thomas, a Praça de touros
tornou-se campo de
concentração, mas põe em dúvida a versão da matança na mesma:
A 27 de outubro de 1936, em La Voz, de Madrid, foi publicada uma versão completamente falsa desta matança, na qual Yagüe era acusado de ter organizada uma festa na que fuzilara os prisioneiros frente da fina flor da sociedade de Badajoz, e que teve efeitos desastrosos, pois provocou represálias em Madrid. |
Uma versão da matança
da Praça de touros que se põe em dúvida na História da Guerra Civil
Española de Hugh Thomas citada anteriormente pode-se ver na página web
daSociedade Benéfica de Historiadores Aficionados e Criadores em "Memória
Republicana", e outra na de CENIT (Porta-voz da regional exterior
da CNT-AIT).
O historiador Francisco
Sánchez Ruano corrobora a versão das matanças da Praça de
touros, mas põe em dúvida que as cometessem os mouros, pois afirma que estes
partiram para a frente imediatamente depois da tomada da cidade, atribuindo à Guarda Civil a autoria das execuções.
Outro historiador, David Solar,
compartilha a ideia de que as matanças na Praça de touros foram perpetradas
pelas autoridades locais de Falange e da Guarda Civil,
para vingar a sua fracassada sublevação. Situa o número de vítimas por volta
das 2000.
Francisco
Pilo, escritor pacense, põe em dúvida tanto a presença de Jay Allen
em Badajoz como o número de execuções que este refere, contra da opinião
majoritária defendida, entre outros, por Paul
Preston, que considera a Allen um referente do jornalismo de guerra.
O historiador Javier
Tusell (Franco en la Guerra Civil. Una biografía política,
1992. Premio Comillas de Biografía, Autobiografía y Memorias), chega à cifra de 4000assassinados.
Um dos estudos mais
exaustivos e documentados sobre a matança é o realizado pelo historiador Francisco
Espinosa, quem, no seu livro La columna de la muerte (2003),
documenta 1389 execuções,
mas constata que as pessoas assassinadas poderiam ter sido mais de 3800.
A Associação para a Recuperação da Memória Histórica,
que leva a cabo a tarefa de localizar valas comuns de vítimas da repressão,
mantém que o número de vítimas em Badajoz oscila entre as 4000 e as 9000.
RESPONSABILIDADES
Segundo
alguns estudos, a campanha de execuções massivas levada a cabo nos primeiros
meses da guerra obedeceu a uma diretriz dos principais líderes da sublevação, Francisco Franco e Emilio Mola, para "purgar o país
conscienciosamente de todos os elementos vermelhos". Esta
campanha foi denominada como política
de extermínio do adversário político.
Jay
Allen conseguiu entrevistar a Franco, em Tetuão, a 27 de julho anterior.
A partir da entrevista, Allen publicou um artigo com a seguinte conversação:
Allen: "Durante quanto tempo prolongar-se-á a situação agora que o golpe fracassou?" Franco: "Não pode haver nenhum acordo, nenhuma trégua. Salvarei Espanha do marxismo a qualquer preço" Allen: "Significa isso que terá de fuzilar média Espanha?" Franco: "Disse a qualquer preço". |
No
momento de se produzir a matança, os máximos responsáveis militares na cidade
eram:
Atuan Yagüe,
tenente-coronel no comando das unidades que tomaram a cidade e responsável pelos
fuzilamentos. Comandante-em-chefe da coluna que efetuou o avanço sublevado de
sul da Espanha. O jornalista português Mário Neves teve oportunidade de se
entrevistar com ele nos primeiros dias de acontecimentos, e ao formular o
comentário "Diz-se que mais
de duas mil pessoas foram fuziladas já em Badajoz", Yagüe espetou um
seco "Não devem ser
tantos". Antonio
Castejón Espinosa, comandante de Infantaria, envolvido em matanças similares em Zafra,Almendralejo e Mérida.
Carlos
Asensio Cabanillas, tenente-coronel das "Forças Regulares Indígenas"
de Tetuão, que participaram na tomada de Badajoz, Toledo e Talavera de la Reina.
GENOCÍDIO
Termos
legais - A
vitória final na Guerra Civil Espanhola do bando sublevado e o desaparecimento
de todos os arquivos municipais e provinciais relacionados aos acontecimentos
de Badajoz fizeram que estes nunca tenham sido levados a juízo. Na época em que
se desenvolveram estes fatos, a justiça internacional regia-se pelo Direito penal
internacional. Não é até depois da Segunda Guerra
Mundial, com a Carta
de Londres, que é criado um tribunal internacional, oTribunal de Nuremberg,
em 1945 para julgar os delitos cometidos pelo
regime Nazi,
tipificando delitos até então não definidos:
1. rimes de guerra, a existência de assassinatos, torturas e violações, fatos contrários às Leis da Guerra.
2. Crimes contra a humanidade, quando se enfrentava o extermínio e a morte em massa.3. Genocídio, quando era assassinado todo um grupo étnico determinado.4. Guerra de agressão, em relação a uma premeditação para alterar a paz e entendida como o processo para afetar negativamente a segurança interior de um Estado soberano.
A ONU,
que impediu o seu acesso a Espanha após a guerra, definiu através da Convenção para a prevenção e a repressão do crime de
genocídio de 1948,
os atos que são constitutivos do delito de genocídio, perpetrados com "a intenção de
destruir, total ou parcialmente, um coletivo ideológico, nacional, étnico,
racial ou religioso".
Informes - Em 2004,
a organização para a defesa dos direitos humanos Equipo
Nizkor apresentou um
informe com o título "A
questão da impunidade na Espanha e os crimes franquistas", sendo o
primeiro estudo sobre estes crimes da perspetiva do Direito Internacional,
aludindo num dos seus apartados ao extermínio de Badajoz como crimes contra a
humanidade em virtude do Estatuto de Nuremberg. A 18 de julho de 2005, Anistia Internacional,
depois de três anos de trabalhos, apresentou o seu informe "Espanha: pôr fim ao silêncio
e à injustiça. A dívida pendente com as vítimas da guerra civil espanhola e do
regime franquista", onde tipifica o massacre de Badajoz de acordo às
convenções da ONU acerca do genocídio.
A 18 de julho de 2007 várias associações apresentaram
denúncias na Audiência
Nacional para a
pesquisa dos fatos, mas estas foram desestimadas, pois "os delitos haviam
prescrito ou, em todo caso, estavam sujeitos à Lei de Anistia de
1997". Em setembro de 2008,
o juiz de Instrução número 5 da Audiência, Baltasar Garzón, voltou a impulsionar estas
denúncias. O fiscal da
Audiência Nacional alegou que os delitos de genocídio e crimes
de lesa humanidade não
eram tipificados no Código Penal de
1932, que regia quando foram cometidos, e que não se podem aplicar com caráter
retroativo. A
Associação para a Recuperação da Memoria
Histórica de Extremadura (Armhex), apresentou a Garzón os dados documentados de 7603 assassinados na província de Badajoz,
e este (amparando-se em que são delitos que não prescrevem) imputou ao regime
franquista, a 14 de outubro, um delito de genocídio por
estes e outros acontecimentos.
Finalmente,
a 18 de novembro, o juiz declarou extinguida a
responsabilidade penal de Franco e de outras 44 altas autoridades do seu
governo, após comprovar a ata de óbitode todos eles. Entre os imputados
figuravam os nomes de Juan Yagüe e Carlos
Asensio. Ademais
transmitiu a pesquisa dos crimes para os julgados de instrução das províncias
em que estão as valas comuns, entre as que está incluída a de Badajoz.